segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O MUNDO DOS ESPÍRITOS

CAPITULO 5 SUMÁRIO

5 O MUNDO DOS ESPÍRITOS

5.1 INTRODUÇÃO

5.2 ORIGEM E NATUREZA DOS ESPÍRITOS

5.3 PERISPÍRITO

5.3.1 Histórico

5.3.2 Natureza e propriedades

5.4 DIFERENTES ORDENS DE ESPÍRITOS

5.4.1 Introdução

5.4.2 Terceira ordem - Espíritos imperfeitos

5.4.3 Segunda ordem - Bons espíritos

5.4.4 Rimeira ordem - Espíritos puros

5.5 PEFCEPÇÕESt S^SAÇÕES E SOFRIMENTOS DOS ESPÍRITOS

5. O MUNDO DOS ESPÍRITOS

5.1. INTRODUÇÃO

A Segunda Parte de O Livro dos Espíritos trata do chamado mundo espírita, ou dos espíritos. Nela, o Codificador - Allan Kardec - procurou situar todos os assun- tos que dizem respeito aos seres que habitam esse fascinante mundo, ou seja, os espíritos.

A contribuição desse estudo é de vital importância para a elucidação de inú­meras questões atinentes ao modo de vida que levaremos após deixarmos o corpo físico, as relações dos espíritos entre si e com os encarnados, a reencarnação, as ocupações dos espíritos, a hierarquia existente entre eles, etc. Nesta aula deter-nos- emos a examinar os seguintes itens: origem e natureza dos espíritos, perispírito, dife­rentes ordens de espíritos, percepções, sensações e sofrimentos dos espíritos.

5.2. ORIGEM E NATUREZA DOS ESPÍRITOS

clip_image001“Pbdemos dizer que os espíritos são os seres inteligentes da criação. Eles povoam o Universo, fora do mundo material”. Esta é a definição dada pelos espíritos em resposta à questão n.° 76 de O Livro dos Espíritos, seguindo-se breve comentário de Allan Kardec: “A palavra espírito é aqui empregada para designar os seres extra- corpóreos e não mais o elemento inteligente univer­sal”.

“Os espíritos são indivi­dualizações do princípio inteligente, como os corpos são individualizações do princí­pio material; a época e a maneira dessa formação é que desconhecemos”. (1) ([*])

Podemos deduzir dos ensinamentos acima que a natureza do espírito não é a mesma da matéria. A posição da Doutrina Espírita é bem definida quanto à origem do espírito e da matéria. No Capítulo XI, n.° 6, de A Génese, Allan Kardec desenvolve o seguinte raciocínio:

“O princípio espiritual teria a sua fonte no elemento cósmico universal? Não seria apenas uma transformação, um modo de existência deste elemento, como a luz, a electricidade, o calor, etc.?’ (2)

Se assim fosse, o princípio espiritual passaria pelas vicissitudes da matéria; ex­tinguir-se-ia pela desagregação como o princípio vital; o ser inteligente só teria uma

existência momentânea, como o corpo, e com a morte voltaria ao nada, ou - o que viria a dar no mesmo - ao Todo Universal. Seria, numa palavra, a sanção das doutri­nas materialistas. (2)

Sobre o que não paira a menor dúvida é acerca da união do princípio espiri­tual à matéria, e, em estágios mais avançados, já o espírito individualizado, que se serve da matéria como elemento indispensável ao seu progresso. “É assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até ao arcanjo, pois mesmo este último começou pelo átomo. Admirável lei de harmonia, de que o vosso espírito limitado ainda não pode abarcar o conjunto”. (2)

Nem todos os espíritos tiveram o seu início aqui na Terra. Todavia, o nosso

clip_image002planeta começou a oferecer a possibilidade de surgimento da vida quando as grandes convulsões telúricas se atenuaram, dando condições para que o princípio espiri­tual, em obediência aos ditames divi­nos, desse origem ao surgimento das formas mais rudimentares de vida. Daí para a frente, ao longo dos milénios, a imensa cadeia de seres que existem, ou que existiram, estabeleceu-se, servindo, cada espécie, de filtro de transformismo para o espírito, na sua marcha ascensional no rumo da per­feição. (1)

Pode parecer contraditório que, estudando o mundo dos espíritos, entremos em considerações sobre a vida na Terra. Todavia, ao tratarmos da origem e natureza dos espíritos, não poderíamos fazê-lo de outro modo, já que, tanto nas obras básicas, como noutras de autores encarnados e desencarnados de reconhecido valor e que demonstram profundo respeito pela Dou­trina, é enfatizada a marcha do espírito pelos escalões inferiores da natureza. Trans­crevemos as questões n.° 607 e 607-a, de O Livro dos Espíritos, para darmos uma ideia dessa posição:

“Ficou dito que a alma do homem, na sua origem, se assemelha ao estado de infância da vida corpórea, que a sua inteligência apenas desponta, e que ela ensaia para a vida. Onde cumpre o espírito essa primeira fase?

- Numa série de existências que precederam o período a que chamais de humanidade.

Parece, assim, que a alma teria sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação?

- Não dissemos que tudo se encadeia na natureza, e tende à unidade? É nes­ses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco, e ensaia para a vida, como dissemos. É, de certa maneira, um trabalho preparatório, como o da germinação, a seguir ao qual o princípio inteligente sofre uma transformação, e se torna espírito. É então que come­ça para ele o período de humanidade, e com este a consciência do seu futuro, a dis­tinção do bem e do mal e a responsabilidade dos seus actos. Como depois do perío­do da infância vem o da adolescência, depois a juventude, e por fim a idade madura. Nada há, de resto, nessa origem, que deva humilhar o homem. Os grandes génios
sentem-se humilhados por terem sido fetos informes no ventre materno? Se alguma coisa deve humilhá-los, é a sua inferioridade perante Deus, e a sua impotência para sondar a profundidade dos seus desígnios e a sabedoria das leis que regulam a har­monia do Universo. Reconhecei a grandiosidade de Deus nessa admirável harmonia que faz a solidariedade de todas as coisas da Natureza. Crer que Deus pudesse ter feito qualquer coisa sem objectivo, e criar seres inteligentes sem futuro, seria blasfe­mar contra a sua bondade, que se estende sobre todas as criaturas.” (1)

5.3. PERISPÍRITO

clip_image003"Como a semente de um fruto é envolvi­da pelo perisperma, o espírito, propriamente dito, é revestido de um envoltório que, por comparação, se pode chamar perispírito”. (1)

"O perispírito, ou corpo fluídico dos espí­ritos, é um dos produtos mais importantes do fluido cósmico. É uma condensação deste fluido em torno de um foco inteligente, ou alma”. (2) Vimos que o corpo carnal tem igualmen­te a sua origem nesse mesmo fluido, transfor­mado e condensado em matéria tangível. No perispírito, a transformação molecular opera-se de modo diferente, pois o fluido conserva a sua imponderabilidade e as suas qualidades etéreas. O corpo perispiritual e o corpo carnal têm, pois, a sua origem no mesmo elemento primitivo. Ambos são matéria, ainda que em dois estados diferentes. (2)

5.3.1. HISTÓRICO

A existência de um elemento intermediá­rio entre o espírito e o corpo físico é admitida desde a mais remota antiguidade. No Egipto (5000 anos a. C.), já se acreditava na existência de um corpo para o espírito, denominado kha.

Na Índia, no Rig-Veda, livro sagrado dos vedas, encontramos referências ao perispírito, com o nome de linga-sharira. Fàra Confúcio era o corpo aeriforme. Na Grécia, os filósofos adoptavam uma variada nomenclatura para defini-lo: veículo leve, corpo luminoso, carro subtil da alma. Fàracelso chamou- lhe corpo astral, ou evestrum. Leibnitz denominava-o de corpo fluídico. Fàulo de Tar­so refere-se ao perispírito nas suas epístolas, chamando-lhe corpo espiritual, ou corpo incorruptível. Modernamente, como consequência de algumas deduções evidentes a favor da sua existência por parte de alguns cientistas, o perispírito é chamado mode­lo organizador biológico (MOB), corpo bioplasmático, etc.

5.3.2. NATUREZA E PROPRIEDADES

clip_image004A natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adi­antamento moral do espírito. Há alguns , portanto, cujo envoltório fluídico, se bem que etéreo e imponderável em relação à matéria tangível, ainda é por demais pesa­do, se assim nos podemos exprimir, em relação ao mundo espiritual, para não permi­tir que eles saiam do meio que lhes é próprio. Nessa categoria devem ser incluídos aqueles cujo perispírito é tão grosseiro que o confundem com o corpo carnal, razão porque continuam a crer-se vivos. Esses espíritos, cujo número é avultado, permane­cem na superfície da Terra, como os encarnados, julgando-se entregues às suas ocu­pações terrenas. Outros, um pouco mais desmaterializados, não o são, contudo, suficientemente, para se elevarem acima das regiões terrestres. (2)

O envoltório perispirítico de um es­pírito modifica-se com o progresso moral que este realiza em cada encarnação, embora encarne no mesmo meio. Os espíritos superiores, encarnando, excepcionalmente, em missão, num mundo inferior, têm o perispírito menos grosseiro do que o dos indígenas desse mundo. (2)

Sabemos que a união do espírito (espírito mais perispírito) ao corpo físico tem início no momento da concepção. Essa ligação permite que o perispírito se constitua numa verdadeira matriz espiritual, orientando o desenvolvimento do futuro ser. Segundo o espírito Emmanuel espanta ao embriologista a lei orga- nogenética que estabelece a ideia directora do desenvolvimento fetal, desde a união do espermatozóide ao óvulo, especificando os elementos amorfos do protoplasma. Nos domínios da vida, essa ideia directriz conserva-se inacessível até hoje aos nossos processos de indagação e análise, porquanto esse desenho invisível não está subordinado a nenhuma determi­nação físico-química, porém, unicamente ao corpo espiritual preexistente, em cujo molde se realizam todas as acções plásticas da organização, e sob cuja influência se efectuam todos os fenómenos endosmóticos. (4)

Um estudo profundo do perispírito, seguindo-se ao trabalho magistral da co­dificação kardequiana, é desenvolvido por Gabriel Delanne no seu livro A Evolução Anímica, publicado em 1885. Apesar do avanço dos conhecimentos científicos, po­demos observar que as modernas pesquisas nada mais têm feito do que comprovar o valor da referida obra em relação a tão palpitante tema. É nesse livro que encon­tramos referência às dúvidas e argumentos do notável fisiologista francês Claude Bernard, ao examinar o desenvolvimento celular, o embrião e o ser já formado. "O que diz essencialmente com o domínio da vida, e não pertence à química, nem à física, nem ao que mais possamos imaginar, é a ideia directriz dessa actuação vital. Em todo o gérmen vivo há uma ideia dirigente, a manifestar-se e a desenvolver-se na sua organização. Depois, no curso de toda a sua vida, o ser permanece sob a influ­
ência dessa força criadora, até que morre, quando ela não mais se pode efectivar. É sempre o mesmo princípio de conservação do ser que lhe reconstitui as partes vivas, desorganizadas pelo exercício, por acidentes ou enfermidades”. (5)

O ilustre fisiologista, contemporâneo de Kardec, não fala em perispírito, mas imagina a sua existência, quando fala de uma ideia directriz e desenho ideal de um organismo ainda invisível.

No estudo da referida obra de Gabriel Delanne fica evidenciado que o perispí­rito é uma aquisição do espírito na sua longa marcha pelos caminhos desta evolução biológica. Essa evolução está claramente definida no Capítulo XI da Segunda Farte de O Livro dos Espíritos e vem completar-se com o trabalho dos grandes naturalistas do século XIX, de entre os quais se destaca a figura de Charles Darwin, cujo trabalho principal, A Origem das Espécies, foi publicado em 1859, dois anos após a publicação de O Livro dos Espíritos. O conhecimento do perispírito faz luz sobre vários pontos obscuros da referida obra, que, apesar de notável, analisa a evolução do ponto de vista simplesmente material, deixando de lado o elemento mais importante no me­canismo da vida, ou seja, o espírito, para o qual as formas vivas são apenas filtros de transformismo, tendo em vista a sua superior finalidade.

Fara finalizar, citamos algumas propriedades do perispírito, entre tantas, por certo, que não podemos ainda compreender.

Matriz espiritual do corpo físico

Ftelo ensino dos espíritos ficamos a saber que a união do espírito ao corpo se opera no momento da concepção, quando se forma a célula ovo. Ftelo raciocínio so­mos levados a concluir que apenas os elementos constitutivos dos cromossomas, ou seja, o ácido desoxirribonucleico (ADN), o ácido ribonucleico (ARN) e proteínas seri­am insuficientes para desencadearem o maravilhoso fenómeno da vida. É necessária a presença da ideia directriz de Claude Bernard, para nós o perispírito, orientando e disciplinando o desenvolvimento celular.

Sustentador das formas físicas dos seres vivos

Sabemos que a renovação celular é uma constante em todos os seres vivos. No caso da espécie humana, ao cabo de mais ou menos sete anos, há uma renova­ção total das células, exceptuando as células nervosas ou neurónios. Como entender- se que persista a fixidez da espécie, a memória e os demais actos necessários à acti­vidade vital, diante de tão surpreendente renovação? Graças, claro, à acção directiva do perispírito, que não só orienta a formação do ser como sustenta a sua forma, até que ocorra a desencarnação.

Retracta o nosso estado mental

Fbr ser um organismo estruturado num outro espaço, sofre, decisivamente, a acção da nossa mente, definindo a nossa posição no concerto evolutivo. Após a mor­te do corpo físico, de acordo com o seu peso específico, gravitaremos até às regiões afins com o nosso modo de ser. (3)

Fapel na mediunidade

No mecanismo da mediunidade é fundamental a acção do perispírito, seja pela capacidade de exteriorização que os médiuns possuem, seja pela combinação do fluido perispiritual do médium com o fluido perispiritual dos espíritos.

5.4. DIFERENTES ORDENS DE ESPÍRITOS

5.4.1. INTRODUÇÃO

A classificação dos espíritos baseia-se no seu grau de adiantamento, nas qua­lidades que já adquiriram e nas imperfeições de que ainda terão de despojar-se. Esta classificação, aliás, nada tem de absoluta. Apenas no seu conjunto cada categoria apresenta carácter definido. De um grau a outro a transição é insensível e, nos limi­tes extremos, os matizes apagam-se, como nos reinos da natureza, como nas cores do arco-íris, ou, também, como nos diferentes períodos da vida do homem.

"Os espíritos, em geral, admitem três categorias principais, ou três grandes divisões. Na última, a que fica na parte inferior da escala, estão os espíritos imperfei­tos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o espírito e pela propensão para o mal. Os da segunda caracterizam-se pela predominância do espírito sobre a matéria e pelo desejo do bem: são os bons espíritos. A primeira, finalmente, com­preende os espíritos puros, os que atingiram o grau supremo da perfeição.” (1)

Com o auxílio de um quadro, será fácil determinar a ordem, assim como o grau de superioridade ou de inferioridade dos que possam entrar em relações con­nosco e, por conseguinte, o grau de confiança ou de estima que mereçam. É de certo modo, a chave da Ciência Espírita, porque só ela pode explicar as anomalias que as comunicações apresentam, esclarecendo-nos acerca das desigualdades inte­lectuais e morais dos espíritos. (1)

5.4.2. TERCEIRA ORDEM - ESPÍRITOS IMPERFEITOS

clip_image005Características gerais: FTedominância da matéria so­bre o espírito. Propensão para o mal. Ignorância, orgulho, egoís­mo e todas as paixões que lhes são consequentes.

Têm a intuição de Deus, mas não O compreendem.

Nem todos são essencialmen­te maus. Em alguns há mais levi­andade, irreflexão e malícia do que verdadeira maldade. Alguns não fazem o bem nem o mal; mas, pelo simples facto de não fazerem o bem, já denotam a sua inferioridade. Outros, ao contrário, comprazem-se no mal, e rejubilam quando se lhes depara uma ocasião de praticá-lo.

Seja, porém, qual for o grau desenvolvimento intelectual que tenham alcançado, as suas ideias são pouco elevadas e os seus sentimentos mais ou menos abjectos. Todo o espírito que, nas suas comunicações, trai um mau pensamento pode ser clas­sificado na terceira ordem.

Pbdem compor cinco classes principais:

Décima classe - espíritos impuros

São inclinados ao mal, de que fazem o objecto das suas preocupações. Como es­píritos, dão conselhos pérfidos, sopram a discórdia e a desconfiança e mascaram-se de todas as maneiras para melhor enganar. Ligam-se aos homens de carácter bastan­te fraco para cederem às suas sugestões, a fim de induzi-los à perdição, satisfeitos por conseguirem retardar-lhes o adiantamento, fazendo-os sucumbir nas provas por que passam.

Nas manifestações dão-se a conhecer pela linguagem. A trivialidade e a grosseria das expressões, nos espíritos como nos homens, é sempre indício de inferioridade moral, senão também intelectual. As suas comunicações exprimem a baixeza dos seus pendores e, se tentam iludir, falando com sensatez, não conseguem sustentar por muito tempo esse papel, e acabam sempre por se traírem.

Quando encarnados, mostram-se propensos a todos os vícios geradores das pai­xões vis e degradantes: a sensualidade, a crueldade, a felonia, a hipocrisia, a cupidez, a avareza sórdida. Fazem o mal por prazer, as mais das vezes sem motivo.

Nona classe - espíritos levianos

São ignorantes, maliciosos, irreflectidos e zombeteiros. Metem-se em tudo; a tudo respondem, sem se incomodarem com a verdade. Gostam de causar pequenos desgostos e ligeiras alegrias, de intrigar, de induzir maldosamente em erro, por meio de mistificações e de espertezas. A esta classe pertencem os espíritos vulgarmente tratados por duendes, trasgos, gnomos, diabretes. Acham-se sob a dependência dos espíritos superiores, que muitas vezes os empregam, como fazemos com os nossos servidores.

Nas suas comunicações com os homens, a linguagem de que se servem é, amiú­de, espirituosa, mas quase sempre sem profundeza de ideias. Aproveitam-se das es­quisitices e dos ridículos humanos e apreciam-nos, mordazes e satíricos. Se tomam nomes falsos, é mais por malícia do que por maldade.

Oitava classe - espíritos pseudo-sábios

Dispõem de conhecimentos bastante amplos, porém, crêem saber mais do que realmente sabem. Tendo realizado alguns progressos, sob diversos pontos de vista, a linguagem deles aparenta um cunho de seriedade, de natureza a iludir, no que diz respeito às suas capacidades e luzes. Mas, em geral, isso não passa do reflexo dos preconceitos e ideias sistemáticas que nutriam na vida terrena. É uma mistura de algumas verdades com os erros mais profundos, através dos quais realçam a presun­ção, o orgulho, o ciúme e a obstinação, de que ainda não puderam despir-se.

Sétima classe - espíritos neutros

Nem bastante bons para fazerem o bem, nem bastante maus para fazerem o mal. Ftendem tanto para um como para o outro e não ultrapassam a condição co­mum da humanidade, quer no que concerne à moral, quer no que toca à inteligên­cia. Apegam-se às coisas deste mundo, de cujas grosseiras alegrias sentem saudades.

Sexta classe - espíritos batedores e perturbadores

Estes espíritos, propriamente falando, não formam uma classe distinta pelas suas qualidades pessoais. Fbdem caber em todas as classes da terceira ordem. Manifes­
tam geralmente a sua presença por efeitos sensíveis e físicos, como pancadas, movi­mento e deslocamento anormal de corpos sólidos, agitação do ar, etc. Parecem ser os agentes principais das vicissitudes dos elementos do globo, quer actuem sobre o ar, a água, o fogo, os corpos duros, quer nas entranhas da terra. Fteconhece-se que esses fenómenos não derivam de uma causa fortuita, ou física, quando denotam carácter intencional e inteligente. Todos os espíritos podem produzir tais fenómenos, mas os de ordem elevada deixam-nos, de ordinário, como atribuições dos subalter­nos, mais aptos para as coisas materiais do que para as da inteligência; quando jul­gam úteis as manifestações desse género, lançam mão destes últimos como seus auxiliares.

5.4.3. SEGUNDA ORDEM - BONS ESPÍRITOS

Características gerais:

Predominância do espírito sobre a matéria; desejo do bem. As suas qualidades e poderes para o bem estão em relação com o grau de adiantamento que hajam al­cançado; uns têm a ciência, outros a sabedoria e a bondade. Os mais adiantados reúnem o saber às qualidades morais. Não estando ainda completamente desmateri­alizados, conservam, mais ou menos, conforme a categoria que ocupem, os traços da existência corporal, na forma da linguagem, como nos hábitos, entre os quais se descobrem, mesmo, algumas das suas manias. De outro modo, seriam espíritos perfeitos.

clip_image006Compreendem Deus e o infinito, e já gozam da felicidade dos bons. São felizes pelo bem que fazem e pelo mal que impe­dem que se faça.

Como espíritos, suscitam bons pen­samentos, desviam os homens da senda do mal, protegem na vida os que se lhes mostram dignos de protecção e neutralizam a influência dos espíritos imperfeitos sobre aqueles a quem não é grato sofrê-la.

Quando encarnados, são bondosos e benevolentes com os seus semelhantes. Não os move o orgulho, nem o egoísmo ou a ambição. Não experimentam ódio, rancor, inveja ou ciúme, e fazem o bem pelo bem.

Podem ser divididos em quatro grupos principais:

Quinta classe - espíritos benévolos

A bondade é neles a qualidade dominante. Apraz-lhes prestar serviço aos homens e protegê-los. Limitados, porém, são os seus conhecimentos.

Quarta classe - espíritos sábios

Distinguem-se pela amplitude dos seus conhecimentos. Preocupam-se menos com as questões morais do que com as de natureza científica, para as quais têm maior
aptidão. Entretanto, só encaram a ciência do ponto de vista da sua utilidade, e ja­mais dominados por quaisquer paixões próprias dos espíritos imperfeitos.

Terceira classe - espíritos de sabedoria

As qualidades morais de ordem mais elevada são o que os caracteriza. Sem possuírem conhecimentos ilimitados, são dotados de uma capacidade intelectual que lhes faculta juízo recto sobre os homens e as coisas.

Segunda classe - espíritos superiores

Esses reúnem em si a ciência, a sabedoria e a bondade. A linguagem que empre­gam exala sempre benevolência; é uma linguagem invariavelmente digna, elevada e, muitas vezes, sublime. A sua superioridade torna-os mais aptos do que os outros a darem-nos noções exactas sobre as coisas do mundo incorpóreo, dentro dos limites do que é permitido ao homem saber. Comunicam-se, complacentemente, com os que procuram de boa-fé a verdade e cuja alma já está bastante desprendida das liga­ções terrenas para compreendê-la. Afastam-se, porém, daqueles a quem só a curiosi­dade impele, ou que, por influência da matéria, fogem à prática do bem.

Quando, por excepção, encarnam na Terra, é para cumprir missão de progresso, e então oferecem-nos o tipo de perfeição a que a humanidade pode aspirar neste mundo.

5.4.4. clip_image007clip_image008FRIMEIRA ORDEM

Características gerais:

Nenhuma influência da matéria. Superioridade

intelectual e moral absolutas, em relação aos espíritos de outras ordens.

FTimeira classe

Os espíritos que a compõem percorreram todos os graus da escala e despojaram-se de todas as impurezas da matéria.

Tendo alcançado a soma de perfeição de que é susceptível a criatura, não têm mais que sofrer provas, nem expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus.

Gozam de inalterável felicidade, porque não se acham submetidos às necessida­des, nem às vicissitudes da vida material. Essa felicidade, porém, não é a da ociosi­dade monótona, a transcorrer em perpétua contemplação. Eles são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção da harmonia uni­versal. Assistir os homens nas suas aflições, concitá-los ao bem ou à expiação das faltas, que os conservam distanciados da suprema felicidade, constitui para eles ocu­pação gratíssima. São designados, às vezes, pelo nome de anjos, arcanjos ou sera­fins.

RESUMO DA ESCALA ESPÍRITA

Ordem

Características gerais

Classe

Denominação

Características particulares

   

10a

Impuros

Inclinados ao mal.

   

9a

Levianos

Ignorantes, maliciosos, irreflectidos,

Terceira

Predominância da

   

zombeteiros.

 

matéria sobre

8.a

Pseudo-sábios

Conhecimentos amplos. Não sa-

Espíritos

o espírito

   

bem o que julgam.

imperfeitos

 

7.a

Neutros

Inércia: não fazem bem nem mal.

   

6.a

Batedores / perturbado-

Manifestam-se pela mediunidade

     

res

de efeitos físicos.

   

5.a

Benévolos

A bondade é qualidade dominante.

Segunda

Predominância do

     
 

espírito sobre

4.a

Sábios

Conhecimentos muito amplos e

Bons

a matéria

   

esclarecidos.

espíritos

 

3.a

De sabedoria

Qualidades morais elevadas.

   

2.a

Superiores

Sabedoria, ciência e bondade.

Primeira

Nenhuma

1.a

Espíritos puros

Superioridade intelectual e moral

Espíritos

influência

   

absoluta.

puros

da matéria

     

5.5. PERCffÇÕES S^ISAÇÕES E SOFRIM^TOS DOS ESPÍRITOS

No mundo espiritual o espírito age com maior liberdade, conservando as percep­ções que tinha quando encarnado e tendo outras que o corpo físico não lhe permite. Não queremos dizer com isso que o espírito, pelo simples facto de passar para o mundo espiritual, sofra profundas transformações no seu modo de ser e de agir, mas apenas que o corpo físico actua como um véu e limita as suas possibilidades.

Em relação ao conhecimento, é proporcional ao nível de evolução de cada um. Os espíritos inferiores não sabem mais do que os homens. A ideia que fazem do princípio das coisas, do passado e do futuro, varia de acordo com o grau de elevação de cada espírito. O mesmo ocorre em relação à compreensão de Deus: Os espíritos superiores vêem-no e compreendem-no; os espíritos inferiores sentem-no e adivi­nham-no. (1)

A vista dos espíritos não é circunscrita como nos seres corpóreos, constituin­do-se numa faculdade geral. Aqueles que, todavia, ainda se encontram presos men-

talmente aos quadros da vida material, continuarão a ter as suas percepções visu­ais limitadas, como se ainda estivessem no plano físico.

clip_image009Todas as percepções são atributos do espírito, e fazem parte do seu ser.

Quando ele se reveste de um corpo material, elas manifestam-se pelos meios orgânicos; mas no estado de liberdade já não estão localizadas. (1)

Em relação à música e às belezas naturais, prevalece ainda a posição evolu­tiva do espírito na apreciação das mesmas. Esclarecem-nos os espíritos que a música celeste não pode ser comparada à nossa.

Comunicando-se connosco, alguns es­píritos dizem sentir fadiga, necessidade de repouso, frio ou calor.

Nas questões n.° 254 e 255 de O Li­vro dos Espíritos encontramos a explica­ção, dizendo que não podem sentir fa­diga como a entendemos, e portanto não necessitam do repouso corporal, pois não possuem órgãos em que as forças tenham de ser restauradas. Mas o espírito repousa, no sentido de não permanecer numa actividade constante.

Ele não age de maneira material, porque a sua acção é toda intelectual e o seu repouso é todo moral. Há momentos em que o seu pensamento diminui de actividade e não se dirige a um objecto determi­nado; este é um verdadeiro repouso, mas não se pode compará-lo ao do corpo. A espécie de fadiga que os espíritos podem provar está na razão da sua inferioridade, pois quanto mais se elevam, de menos repouso necessitam.

Em relação às sensações de frio ou calor, o que existe é a lembrança do que so­freram durante a vida, e algumas vezes tão penosa como a própria realidade. Fre­quentemente, é uma comparação que fazem, para exprimirem a sua situação. Quando se lembram do corpo experimentam uma espécie de impressão, como quando se tira uma capa e algum tempo depois ainda se pensa estar com ela.

Na questão n.° 257 de O Livro dos Espíritos Allan Kardec apresenta um "ensaio teórico sobre a sensação nos espíritos”. Recomendando a consulta do livro aludido, servirnos-emos dele, para resumir o que atrás já foi dito:

Durante a vida, o corpo recebe as impressões exteriores e transmite-as ao espíri­to, por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que se costuma chamar fluido nervoso. O corpo, estando morto, não sente mais nada, porque não possui espírito nem perispírito. O espírito, desligado do corpo, experimenta a sensa­ção, mas como esta não lhe chega por um canal limitado torna-se geral. Como o perispírito é apenas um agente de transmissão, pois é o espírito que possui a consci­ência, deduz-se que se pudesse existir perispírito sem espírito, ele não sentiria mais do que um corpo morto. Da mesma maneira, se um espírito não tivesse perispírito, seria inacessível a todas as sensações penosas: é o que acontece com os espíritos
completamente purificados. Sabemos que quanto mais o espírito se purifica, mais eterizada se torna a essência do perispírito, de maneira que a influência material di­minui à medida que o espírito progride, ou seja, à medida que o perispírito se torna menos grosseiro.

RESUMO

ORIGEM E NATUREZA DOS ESPÍRITOS

Os espíritos são os seres inteligentes da criação. Eles povoam o Universo, fora do mundo material.

Os espíritos são individualizações do princípio inteligente, como os corpos são individualizações do princípio material.

O nosso planeta começou a oferecer possibilidade de surgimento da vida quando^ as grandes convulsões telúricas se atenuaram.

É nos seres inferiores que o princípio espiritual se elabora, se individualiza, pouco a pouco, e ensaia para a vida.

PERISPÍRITO

A existência de um elemento intermediário entre o espírito e o corpo físico é admitida desde a mais remota antiguidade.

A união do espírito ao corpo físico dá-se no momento da concepção.

O perispírito é uma aquisição do espírito, na sua longa marcha pelos cami­nhos da evolução biológica.

O perispírito é a matriz espiritual do corpo físico.

O perispírito é o sustentador das formas físicas dos seres vivos.

O perispírito retracta o nosso estado mental.

DIFERENTES ORDENS DE ESPÍRITOS

As características gerais dos espíritos das três ordens são as seguintes:

Nos imperfeitos - predominância da matéria sobre o espírito; nos bons - pre­dominância do espírito sobre a matéria; nos espíritos puros - nenhuma influência da matéria.

PERCEPÇÕES, SENSAÇÕES E SOFRIMENTOS DOS ESPÍRITOS

No mundo espiritual, o espírito age com maior liberdade, tendo as percepções que tinha quando encarnado e outras que o corpo físico não permite.

As sensações de frio ou calor que alguns espíritos dizem sentir é a lembrança do que sofreram durante a vida.

BIBLIOGRAFIA

(1) Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Questões: 43-44-45-79-93-100 a 113-244­249-540 - 1.a Edição - Edicel-Editora Cultural Espírita, Lda.

(2) Allan Kardec, A Génese, Cap. XIV, n.° 7, 9 e 10. 18.a Edição (Popular), Federa­ção Espírita Brasileira

(3) André Luiz, Evolução em Dois Mundos, psicografia de Francisco Cândido Xavi­er, 1.a Parte, Cap. II - 3 a Edição - Federação Espírita Brasileira

(4) Emmanuel, Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, Pág. 127 - 7.a Edição - Federação Espírita Brasileira

(5) Gabriel Dellane, A Evolução Anímica, Cap. I, Ideia directriz, 4 a Edição, Federa­ção Espírita Brasileira


[*] Os algarismos colocados entre parênteses correspondem, na bibliografia, no final dos resumos de cada capítulo, aos mesmos algarismos com que estão assinaladas as fontes que serviram de base ao texto, ou extraídas as citações.

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