segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

DEUS, ESPÍRITO E MATÉRIA

CAPÍTULO 4 SUMÁRIO

4 DEUS, ESPÍRITO E MATÉRIA 4.1 DEUS

4.1.1 Provas da sua existência

4.1.2 Atributos da Divindade

4.2 ESPÍRITO E MATÉRIA

4.2.1 Rincípio das coisas

4.2.2 Formação dos seres vivos 4.2.2.1 Rincípio vital

4. DEUS ESPÍRITO E MATÉRIA

4.1. DEUS

4.1.1. PROVAS DA SUA EXISTÊNCIA

clip_image001Sendo Deus a prova primária de todas as coisas, a origem de tudo o que existe, a base em que repousa o edifício da criação, é também o ponto que importa considerarmos antes de tudo. (1) (*)

A prova da existência de Deus temo-la neste axioma:

Não há efeito sem causa. Vemos

constantemente uma imensidade de efeitos, cuja causa não está

na humanidade, pois a humanidade é impotente para produzi-los, ou, mesmo, para explicá-los. A causa está acima da humanidade. É a essa causa que se chama Deus, Jeová, Alá, Fo-Hi, Grande Espírito, etc. (2)

Outro princípio igualmente elementar e que, de tão verdadeiro, passou a axi­oma é o de que todo o efeito inteligente tem de decorrer de uma causa inteligente. (1)

Os efeitos acima referidos, não se produzem ao acaso, fortuitamente e em desordem. Desde a organização do mais pequenino insecto e da mais insignificante semente, até à lei que rege os mundos que circulam no Espaço, tudo atesta uma ideia directora, uma combinação, uma providência, uma solicitude que ultrapassam todas as combinações humanas. A causa é, pois, soberanamente inteligente. (2)

A um pobre beduíno, ignorante, que orava muito a Deus, alguém perguntou como poderia acreditar nele.

- Ftelas suas obras, disse. E explicou:

- Não conhece a origem de uma jóia pelo sinete do joalheiro? Não sabe de quem é uma carta, pela letra do envelope? Não afirma que um camelo e não um cão passou pela estrada, olhando simplesmente o rastro deixado pelo animal? Assim, também, eu sei que Deus existe pelas suas obras.

- Como. Explique melhor.

- É muito fácil. As estrelas do céu, não são obra dos homens, que não poderiam tê- las colocado lá. Logo, só podem ser obra de Deus e, portanto, Ele existe. (3)

(*) Os algarismos colocados entre parênteses correspondem, na bibliografia, no final dos resumos de cada capítulo, aos mesmos algarismos com que estão assinaladas as fontes que serviram de base ao texto, ou extraídas as citações.

Com respeito ao conceito de Deus segundo o Espiritismo, sabendo-se que limitar Deus a uma definição é impossível, a Doutrina Espírita procura partir de dados racionais, para não cair no terreno das ideias imaginárias e místicas, que tornam ininteligíveis os princípios e as causas. Daí, a importância de estudarmos os atri­butos da Divindade, como adiante veremos, a fim de compreendermos racional­mente o assunto.

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, na primeira pergunta, propõe uma ques­tão aos espíritos sobre Deus, de uma forma lógica; não usa a forma QUEM É DEUS? que daria um sentido de personificação, uma ideia antropomórfica. Mas, ele busca a natureza íntima, a essência das coisas, formulando a proposição desta forma - “QUE É DEUS?”. Ao que os espíritos sabiamente respondem:

“DEUS É A INTELIGÊNCIA SUPREMA, CAUSA PRIMÁRIA DE TODAS AS COISAS’.

Achando-nos numa região habitada exclusivamente por selvagens, se desco­brirmos uma estátua digna de Fídias, não hesitaremos em dizer que, sendo incapa­zes de tê-la feito os selvagens, ela é obra de uma inteligência superior à destes.

Fbis bem, lançando o olhar em torno de si, sobre as obras da Natureza, reconhece o observador não haver nenhuma que não ultrapasse os limites da mais portentosa inteligência humana. Ora, se o homem não as pode produzir, elas são produto de uma inteligência superior à humanidade, a menos que se sustente que há efeitos sem causa.

clip_image002A isto opõem alguns o seguinte raciocínio: as obras ditas da Natureza são produzidas por forças materiais que actuam mecanicamente, em virtude das leis de atracção e repulsão; as moléculas dos corpos inertes agregam-se e desagregam-se sob o império dessas leis. As plantas nascem, brotam, crescem e multiplicam- se sempre da mesma maneira, cada uma na sua espécie, por efeito daquelas mesmas leis; cada indivíduo assemelha-se ao que lhe deu origem; o crescimento, a floração, a fru­tificação, a coloração acham-se subordinados a causas materiais, tais como a electri­cidade, o calor, a luz, a humidade, etc. O mesmo se dá com os animais. Os astros formam-se pela atracção molecular e movem-se perpetuamente nas suas órbi­tas, por efeito da gravitação. Essa regularidade mecânica no emprego das forças naturais não acusa a acção de qualquer inteligência livre. O homem movimenta o braço quando
quer e como quer; aquele, porém, que o movimentasse no mesmo sentido, desde o nascimento até à morte, seria um autómato. Ora, as forças orgânicas da Natureza são puramente automáticas.

clip_image003Tudo isso é verdade; mas, essas forças são efeitos que hão-de ter uma causa e ninguém pretende que elas constituam a Divindade. Elas são materiais e mecâni­cas; não são, em si mesmas, inteligentes, também isso é verdade; mas, são postas em acção, distribuídas, apropriadas às

necessidades de cada coisa por uma inteligência que não é a dos homens.

A aplicação útil dessas forças é um efeito inteli­gente, que denota uma causa inteligente.

A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro; a

engenhosidade do

mecanismo atesta-lhe a inteligência e o saber.

Quando um relógio nos dá o momento preciso, a indicação de que necessitamos, já nos ocorreu dizer: aí está um relógio bem inteligente?

Outro tanto ocorre com o mecanismo do Universo. Deus não se mostra, mas revela-se pela suas obras.

A existência de Deus é, pois, uma realidade comprovada, não só pela revela­ção, como também pela evidência dos factos. Os povos selvagens nenhuma revela­ção tiveram; entretanto, crêem instintivamente na existência de um poder sobrehu­mano. (1)

O sentimento instintivo que todos os homens têm da existência de Deus é, também, uma prova de que Ele existe e uma consequência do princípio: não há efei­to sem causa. Esse sentimento não é fruto de uma educação, resultado de ideias adquiridas, pois ele é universal; encontra-se mesmo entre os selvagens, a quem ne­nhum ensino foi ministrado a esse respeito.

Questionam alguns se a causa primária da formação das coisas não estaria nas propriedades íntimas da matéria. F^ém, é sempre indispensável uma causa pri­mária. Atribuí-la a essas propriedades, seria tomar o efeito pela causa, já que tais propriedades são também um efeito.

Alguns atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, isto é, ao acaso. Isto constitui um absurdo, uma insensatez, pois o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria um acaso. E demais, o que é o acaso? Nada. O nada não existe.

Há um provérbio que diz: pela obra se conhece o autor! Vede a obra e procu­rai o autor. O homem orgulhoso nada admite acima de si. FTocurando a obra primá­ria do Universo, reconhece-se no seu autor uma inteligência suprema, uma inteligên­cia superior à humanidade. Seja qual for o nome que lhe dêem, essa inteligência su­perior é a causa primária de todas as coisas. Fàra crer -se em Deus, basta lançar o
olhar para as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo o efeito tem uma causa e adiantar que o nada pode fazer alguma coisa. (4)

Se Deus está em toda a parte, porque não o vemos? Vê-lo-emos quando dei­xarmos a Terra? Tais as perguntas que se formulam todos os dias.

A primeira é fácil responder. Fbr serem limitadas as percepções dos nossos órgãos visuais, que os tornam inaptos à visão de certas coisas, mesmo materiais.

Os nossos órgãos materiais não podem perceber as coisas de essência espiri­tual. Unicamente com a visão espiritual é que podemos ver os espíritos e as coisas do mundo imaterial. Somente a nossa alma, portanto, pode ter a percepção de Deus. Dar-se-á que ela o veja logo após a morte?

As comunicações com os espíritos dizem-nos que a visão de Deus constitui privilégio das mais purificadas almas e que bem poucas, ao deixarem o envoltório terrestre, se encontram no grau de desmaterialização necessária a tal efeito.

Uma pessoa que se ache no fundo de um vale, envolvida por densa bruma, não vê o Sol. Entretanto, pela luz difusa, percebe que está sol. Se começa a subir a montanha, à medida que for ascendendo, o nevoeiro irá tornar-se mais claro, a luz cada vez mais viva. Contudo, ainda não verá o Sol. Só depois de se achar elevada acima da camada brumosa, e chegado a um ponto onde o ar esteja perfeitamente límpido, ela contempla-o em todo o seu esplendor.

clip_image004O mesmo se dá com a alma. O envoltório perispirítico, embora nos seja, em condições normais, invisível e impalpável é, em relação a ela, verdadeira matéria, ainda demasiado grosseira para certas percepções. Ele, porém, espiritualiza-se, à me­dida que a alma se eleva em moralidade. As imperfeições da alma são como camadas nevoentas que lhe obscurecem a visão.

Nenhum homem, por conseguinte, pode ver Deus com os olhos da carne. Se essa graça fosse concedida a alguns, só seria no estado de êxtase. Tal privilégio, aliás, pertenceria exclusivamente a almas de eleição, encarnadas em missão, e não em expiação. Mas, como os espíritos da mais elevada categoria têm brilho ofuscante, pode acontecer que espíritos menos elevados, encarnados ou desencarnados, maravilhados com o esplendor que os cerca, suponham estar a ver o próprio Deus. (1)

Do livro ONDE ESTÁ DEUS?, do poeta espírita José Soares Cardoso, extraímos o seguinte poema, que reflecte a percepção do poeta no sentir a Divindade.

ONDE ESTÁ DEUS?

- Onde está Deus? Ftergunta o cientista, Ninguém O viu jamais. Quem Ee é? Responde às pressas, o materialista:

- Deus é somente uma invenção da fé!

O pensador dirá, sensatamente:

- Não vejo Deus, mas sinto que Ee existe! A natureza mostra claramente

Em que o poder do Criador consiste.

Mas o poeta dirá, com segurança De quem afirma porque tem certeza:

- Eu vejo Deus no riso da criança,

No céu, no mar, na luz da natureza!

Contemplo Deus brilhando nas estrelas No olhar das mães fitando os filhos seus, Nas noites de luar claras e belas,

Que em tudo pulsa o coração de Deus!

Eu vejo Deus nas flores e nos prados,

Nos astros a rolar pelo Infinito,

Escuto Deus na voz dos namorados,

E sinto Deus na lágrima do aflito!

Fercebo Deus na frase que perdoa, Contemplo Deus na mão que acaricia Escuto Deus na criatura boa E sinto Deus na paz e na alegria!

Eu vejo Deus no médico salvando, Fressinto Deus na dor que nos irmana. Descubro Deus no sábio procurando Compreender a natureza humana!

Eu vejo Deus no gesto da bondade,

Escuto Deus nos cânticos do crente. Fercebo Deus no sol, na liberdade E vejo Deus na planta e na semente!

Eu vejo Deus, enfim, por toda parte.

Que tudo fala dos poderes seus,

Descubro Deus nas expressões da Arte,

No amor dos homens também sinto Deus!

Mas onde eu sinto Deus com mais beleza, Na sua mais sublime vibração,

Não é no coração da natureza,

É dentro do meu próprio coração. (5)

4.1.2. ATRIBUTOS DA DIVINDADE

Não é dado ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Fàra compreendê- Lo, ainda nos falta o sentido próprio, que só se adquire por meio da completa depuração do espírito.

Mas, se não pode penetrar na essência de Deus, o homem, desde que aceite como premissa a sua existência, pode, pelo raciocínio, chegar a conhecer-Lhe os atri­butos necessários, porque, vendo o que Ele não pode ser, sem deixar de ser Deus, deduz, daí, o que deve ser.

clip_image005Sem o conhecimento dos atributos de Deus, seria impossível compreender-se a obra da criação. É esse o ponto de partida de todas as crenças religiosas e é por não se terem reportado a isso, como o farol capaz de as orientar, que a maioria das religiões errou nos seus dogmas. As que não Lhe atribuíram omnipotência, imaginaram muitos

deuses; as que não Lhe atribuíram soberana bondade, fizeram dele um deus cioso, colérico, parcial e vingativo. (1)

A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a na­tureza íntima de Deus. Na infância da humanidade, o homem confunde-O, muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições Lhe atribui; mas, à medida que se desenvol­ve nele o senso moral, o seu pensamento penetra melhor no âmago das coisas; en­tão, faz ideia mais justa da Divindade e, ainda que sempre incompleta, mais confor­me à sã razão.

Se não pode compreender a natureza íntima de Deus, o homem pode formar ideia de algumas das suas perfeições e compreendê-las melhor à proporção que se eleva acima da matéria, entrevendo-as pelo pensamento.

Fodemos, assim, dizer que Deus é a suprema e soberana inteligência, imutá­vel, imaterial, único, omnipotente, soberanamente justo e bom. Tudo isto, por certo, não expressa exactamente todas as capacidades da Divindade, pois há coisas acima do homem mais inteligente, as quais a linguagem humana, restrita às ideias e sensa­ções, não tem meios de exprimir. Todavia, a razão diz que Deus deve possuir em grau supremo essas perfeições, porquanto, se uma lhe faltasse, ou não fosse infinita, já Ele não seria superior a tudo; não seria, por conseguinte, Deus. F&ra estar acima de todas as coisas, Deus tem que se achar isento de qualquer vicissitude e de qual­quer das imperfeições que a imaginação possa conceber. (4)

Vejamos agora cada um desses atributos de Deus, conforme o conceito espíri­ta.

Deus é a suprema e soberana inteligência

A inteligência do homem é limitada, pois não pode fazer, nem compreender tudo o que existe. A de Deus, abrangendo o infinito, tem que ser infinita. Se a supu­séssemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteli­gente, capaz de compreender e fazer o que o primeiro não faria, e assim por diante, até ao infinito.

Deus é eterno

Isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada. Ora, sendo o nada nenhuma coisa, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido criado por outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe supuséssemos um começo ou fim, poderíamos conceber uma entidade existente an­tes dele e capaz de lhe sobreviver, e assim por diante, ao infinito.

clip_image006Deus é infinitamente perfeito

É impossível

conceber Deus sem o infinito das perfeições, sem o qual não seria Deus, pois sempre se poderia con­ceber um ser que possuisse o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se mister que ele seja infinito em tudo.

Deus é imutável

Se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o Universo.

Deus é imaterial

Isto é, a Sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria. Deus carece de forma apreciável pelos nossos sentidos, sem a qual seria matéria.

Deus é único

A unicidade de Deus é consequência do facto de serem infinitas as suas per­feições. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infi­nito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao poder desse outro e, então, não seria Deus. (1)

Deus é omnipotente

É omnipotente porque é único. Se não dispusesse do soberano poder, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso como ele, que então não teria feito todas as coisas. As que não tivesse feito, seriam obras de outro deus. (4)

Deus é soberanamente justo e bom

A providencial sabedoria das leis divinas revela-se nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua justiça, nem da sua bondade.

O facto de uma qualidade ser infinita , exclui a possibilidade de uma qualida­de contrária, porque esta a apoucaria ou anularia. Um ser infinitamente bom não poderia conter a mais insignificante parcela de malignidade, nem o ser infinitamente mau conter a mais insignificante parcela de bondade, do mesmo modo que um ob­jecto não pode ser um negro absoluto, com a mais ligeira nuança de branco, nem de um branco absoluto com a mais pequena mancha preta.

clip_image007Deus, pois, não poderia ser simultaneamente mau e bom, porque, então, não possuindo qualquer dessas duas qualida­des no grau supremo, não seria Deus. Ele não poderia, por conseguinte, deixar de ser infinitamente bom ou infinitamente mau. Ora, como as Suas obras dão testemunho da Sua sabedoria, da Sua bon­dade e da Sua solicitude, concluir-se-á que, não podendo ser ao mesmo tempo bom e mau sem deixar de ser Deus, tem de ser necessariamente infinitamente bom.

A soberana bondade implica a soberana justiça, porque se Ele procedesse in­justamente ou com parcialidade numa só circunstância que fosse, ou em relação a uma só das Suas criaturas, já não seria soberanamente justo e, em consequência, já não seria soberanamente bom.

Deus é, pois, a inteligência suprema e soberana, é único, eterno, imutável, imaterial, omnipotente, soberanamente justo e bom, infinito em todas as perfeições, e não pode ser diverso disso.

Tal o eixo sobre o qual repousa o edifício universal. É esse o farol cujos raios se estendem sobre o Universo inteiro, única luz capaz de guiar o homem na pesquisa da verdade.

Tal, também, o critério infalível de todas as doutrinas filosóficas e religiosas. Para apreciá-las, o homem dispõe da medida rigorosamente exacta nos atributos de Deus e pode afirmar a si mesmo que toda a teoria, todo o princípio, todo o dogma, toda a crença, toda a prática que estiver em contradição com um só que seja desses atributos, que tenda, não só a anulá-lo, mas simplesmente a diminuí-lo, não pode estar com a verdade.

Em filosofia, em psicologia, em moral, em religião, só é de verdadeiro o que não se afaste, nem um til, das qualidades essenciais da Divindade. A religião perfeita será aquela cujos artigos de fé nenhum esteja em oposição àquelas qualidades; aque­las cujos dogmas suportem todos a prova dessa verificação sem nada sofrerem. (1)

4.2. ESPÍRITO E MATÉRIA

clip_image008No desdobramento da questão n.°

22 de O Livro dos Espíritos, a definição de matéria está exposta assim:

"A matéria é o laço que prende o espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua acção.”

A esta definição Allan Kardec faz o seguinte comentário:

"Deste ponto de vista, pode dizer- se que a matéria é o agente, o intermediá­rio com o auxílio do qual e sobre o qual atua o espírito.”

À pergunta: “Que é o Espírito?”

Allan Kardec obteve dos espíritos a seguinte resposta: “ O princípio inteligente do Universo.”

E, quanto à natureza íntima do espírito, esclareceram: "Não é fácil analisar o espírito com a vossa linguagem. Para vós ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa.”

A inteligência é um atributo essencial do espírito e uma e outro confun­dem-se num princípio comum, de tal sorte que podem ser considerados pelos encarnados a mesma coisa. (4)

O espírito independe da matéria e são distintos um do outro, mas, a união do espírito e da matéria é necessária para intelectualizar a matéria.

O homem não possui uma organização apta a perceber o espírito sem a ma­téria, porque os seus sentidos não são apropriados para isto. Daí, para ele a união do espírito e da matéria ser igualmente necessária para a manifestação do espírito. En­tende-se aqui por espírito o princípio da inteligência, abstracção feita das individuali­dades que por esse nome se designam.

Todavia, pode conceber-se o espírito sem a matéria e a matéria sem o espíri­to, pelo pensamento.

Há, pois, dois elementos gerais do Universo: a matéria e o espírito, e acima de tudo Deus, o Criador, o Pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal.

Mas, ao elemento material, tem que se juntar o fluido universal, que desem­penha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o espírito possa exercer a sua acção sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo como o elemento material, ele distingue-
se deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente maté­ria, não haveria razão para que o espírito não o fosse. Está colocado entre o espírito e a matéria; é fluído, como a matéria é matéria, e susceptível, pelas suas inúmeras combinações com esta e, sob a acção do espírito, de produzir a infinita variedade das coisas que apenas conhecemos uma parte mínima. Esse fluído universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente que o espírito utiliza, é o princípio sem o qual a ma­téria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. (4)

A matéria, como a entendemos, é ponderável, porém, considerada como flui­do universal é tão etérea e subtil que é imponderável, apesar de ser o princípio da matéria pesada. Segue-se, daí, que a gravidade é uma propriedade relativa. Fora das esferas de atracção dos mundos, não há peso, do mesmo modo que não há alto nem baixo.

Todos os corpos são formados de um só elemento primitivo, que se modifica para dar origem aos corpos chamados simples. (6)

É este elemento primitivo que determina as diversas propriedades que a ma­téria apresenta, devido às modificações que as suas moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união, em certas circunstâncias. Esta matéria elementar é susceptí­vel de experimentar todas as modificações e adquirir todas as propriedades, daí po­der dizer-se que tudo está em tudo. Dessa forma, o oxigénio, o hidrogénio, o azoto, o carbono e todos os corpos que consideramos simples são meras modificações de uma substância primitiva. Na impossibilidade que ainda nos encontramos de remon­tar, a não ser pelo pensamento, a esta matéria primária, esses corpos são para nós verdadeiros elementos e podemos, sem maiores consequências, tê-los como tais, até nova ordem.

O Espaço Universal é ilimitado e infinito. Todavia, o homem não poderá com­preendê-lo nesta pequenina esfera terrena. For mais distante que a imaginação colo­que o limite do Espaço, a razão diz que além deste limite há alguma coisa e, assim, gradativamente até ao infinito, porque, embora essa alguma coisa fosse o vazio absoluto, ainda seria espaço. E os espíritos afirmam que no Universo não há o vácuo absoluto; o que nos parece vazio está ocupado por matéria que escapa aos sentidos e aos instrumentos humanos. (4)

"Quer a matéria exista desde toda a eternidade, como Deus, quer tenha sido criada numa época qualquer, é evidente, segundo o que se passa quotidianamente às nossas vistas, que são temporárias as transformações da matéria e que dessas transformações resultam diferentes corpos, que incessantemente nascem e se des- troem.” (2)

Como produto que são da aglomeração e da transformação da matéria, os diversos mundos hão-de ter tido, como todos os corpos materiais, começo e terão fim, de acordo com leis que desconhecemos. A Ciência pode, até certo ponto, for­mular as leis que lhes presidiram à formação e remontar ao estado primitivo deles. Toda a teoria filosófica em contradição com os factos que a Ciência comprova é ne­cessariamente falsa, a menos que prove estar errada a Ciência. (2)

O Universo abrange a infinidade dos mundos que vemos e que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se movem no espaço, assim como os fluídos que o enchem. (4)

A razão leva-nos a concluir que o Universo não pode ter-se formado por si mesmo nem por obra do acaso, mas que há-de ser obra de Deus. Deus criou o Uni­verso pela sua vontade omnipotente, caracterizada nas belas palavras da Génese bíblica - "Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita.” (4)

Quanto ao modo de formação dos mundos, o que poderemos compreender é que eles se formam pela condensação da matéria disseminada no Espaço. Deus re­
nova os mundos, como renova os seres vivos; assim, um mundo completamente formado, poderá desaparecer e a matéria que o compõe disseminar-se de novo no Espaço. (4)

4.2.1. O FRINCÍFIO DAS COISAS

clip_image009Segundo nos informam os espíritos na codificação, Deus não permite que seja tudo revelado ao homem neste mundo. Assim, não lhe é dado conhecer o princípio das coisas.

Somente à medida que ele se depura é que o véu das coisas ocultas se levanta a seus olhos; mas, para compreender certas coisas, são-lhe necessárias facul­dades que ainda não possui.

Ftela Ciência, que lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas, o homem pode, usando a investigação, penetrar nalguns segredos da Natureza. Forém, não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu.

Segundo Allan Kardec, quanto mais consegue o homem penetrar nesses mistérios, quanto maior admiração lhe devem causar o poder e sabedoria do Criador. Entretanto, seja por orgulho, seja por fraqueza, a sua própria inteligência fá-lo joguete da ilusão. Ele amontoa sistemas sobre sistemas e cada dia que passa mostra- lhe quantos erros tomou por verdades e quantas verdades rejeitou como erros. São outras tantas decepções para o seu orgulho.

Do mesmo modo, se julgar conveniente, Deus pode revelar ao homem o que à Ciência não é dado apreender. Desse modo, o homem pode receber comunicações de ordem mais elevada acerca do que lhe escapa ao testemunho dos sentidos. É por essas comunicações que o homem adquire, dentro de certos limites, o conhecimento do seu passado e do seu futuro. (4)

Em Obras Fbstumas, de Allan Kardec, 1a parte, § 3°, encontramos:

“O princípio das coisas reside nos arcanos de Deus.”

Tudo diz que Deus é o autor de todas as coisas, mas como e quando as cri­ou? A matéria existe, como Ele, de toda a eternidade? Ignoramo-lo. Acerca de tudo que Ele não julgou conveniente revelar-nos, apenas podem erguer-se sistemas mais ou menos prováveis. Dos efeitos que observamos, podemos remontar a algumas causas. Há, porém, um limite que nos é impossível transpor. Querer ir além é, simul­taneamente, perder tempo e cair em erro.

4.2.2. FORMAÇÃO DOS SERES VIVOS

Houve tempo em que não existiam seres vivos na Terra; logo eles tiveram co­meço. Cada espécie foi aparecendo à medida que o globo adquiria as condições ne­cessárias à existência delas. (1)

A Terra continha os germes dos seres vivos, que aguardavam o momento fa­vorável para se desenvolverem. Os princípios orgânicos congregaram-se, desde que cessou a actuação da força que os mantinha afastados, e formaram os germes de todos os seres vivos. Estes germes permaneceram em estado latente de inércia, como a crisálida e as sementes das plantas até ao momento propício ao surto de cada espécie. Os seres de cada uma destas espécies reuniram-se, então, e multiplica­ram-se. (1)

Os elementos orgânicos, antes da formação da Terra, achavam-se em estado de fluído no Espaço, no meio dos espíritos, ou noutros planetas, à espera da criação da Terra para começarem nova existência num novo globo.

A espécie humana encontrava-se entre os elementos orgânicos contidos no globo terrestre e veio a seu tempo. Foi o que deu lugar a que se dissesse que o ho­mem se formou do limo da terra.

Quanto à época do aparecimento do homem e dos seres vivos na Terra, to­dos os cálculos humanos são quiméricos.

"O princípio das coisas está nos segredos de Deus. Entretanto, pode dizer-se que os homens, uma vez espalhados na Terra, absorveram em si mesmos os elemen­tos necessários à sua própria formação, para os transmitir segundo as leis da repro­dução. O mesmo se deu com as diferentes espécies de seres vivos.” (4)

clip_image010

O homem surgiu em muitos pontos do globo e em várias épocas, o que tam­bém constitui uma das causas da diversidade das raças, além dos factores do clima, da vida e dos costumes. Mais tarde os homens, dispersando-se os homens por cli­mas diferentes e aliando-se os de umas aos de outras raças, novos tipos se forma­ram. (4)

Emmanuel, no seu livro A Caminho da Luz, revela que as formas de todos os reinos da natureza terrestre foram estudadas e previstas sob a orientação sábia do Cristo, que coordenava o trabalho de numerosas assembleias de operários espirituais. Ele diz que os fluídos da vida foram manipulados de modo a adaptarem-se às condi­ções físicas do planeta, encenando-se as construções celulares segundo as possibili­dades do ambiente terrestre, tudo obedecendo a um plano preestabelecido. Uma camada de matéria gelatinosa envolvera o orbe terreno nos seus mais íntimos con­tornos. Essa matéria, amorfa e viscosa, era o celeiro sagrado das sementes da vida. O protoplasma foi o embrião de todas as organizações do globo terrestre, e, se essa matéria, sem forma definida, cobria a crosta solidificada do planeta, em breve a con­densação da massa dava origem ao surgimento do núcleo, iniciando-se as primeiras
manifestações dos seres vivos. Os primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células albuminóides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura tépida dos oceanos. (7)

4.2.21. FRINCÍFIO VITAL

Os seres orgânicos são os que têm em si uma fonte de actividade íntima que lhes dá a vida. Nessa classe estão os homens, os animais e as plantas.

Seres inorgânicos são todos os que carecem de vitalidade, de movimentos próprios e que se formam apenas pela agregação da matéria. Tais são os minerais, a água, o ar, etc.

A força que une os elementos da matéria nos corpos orgânicos e inorgânicos é a mesma. A matéria que compõe esses corpos também é a mesma, porém, nos corpos orgânicos está animalizada pela sua união com o princípio vital.

clip_image011A vida é um efeito devido à acção de um agente sobre a matéria que é o princípio vital. Esse agente, sem a matéria não é a vida, do mesmo modo que a ma­téria não pode viver sem esse agente. Ele dá a vida a todos os seres que o absorvem e assimilam. (4)

"Combinando-se sem o princípio vital, o oxigénio, o hidrogénio, o azoto e o carbo­no unicamente teriam formado um mineral ou corpo inorgânico; o princípio vital, modi­ficando a constituição molecular desse cor­po, dá-lhe propriedades especiais. Em lugar de uma molécula mineral, tem-se uma molé­cula de matéria orgânica.” (1)

O princípio vital tem por fonte o fluí­do universal. É o que chamamos de fluído magnético, ou fluído eléctrico animalizado. É o intermediário, o elo existente entre o espí­rito e a matéria. Ele é um só para todos os seres vivos, mas modificado segundo as es­pécies. É ele que lhes dá movimento e activi­dade e os distingue da matéria inerte, por­que o movimento da matéria não é vida.

Esse movimento ela recebe-o, não o dá. (4)

A actividade do princípio vital é ali­mentada durante a vida pela acção do fun­cionamento dos órgãos, do mesmo modo que o calor, pelo movimento de rotação de uma roda. Cessada aquela acção, pela mor­te, o princípio vital extingue-se, como o ca­lor, quando a roda deixa de girar. Mas, o efeito produzido por esse princípio sobre o estado molecular do corpo subsiste, mesmo depois dele extinto, como a carbonização da matéria subsiste à extinção do calor.

(1)

A causa da morte dos seres orgânicos é o esgotamento dos órgãos. Morto o ser orgânico, os elementos que o compõem sofrem novas combinações, de que re­sultam novos seres, os quais aurem na fonte universal o princípio da vida e da activi­
dade; absorvem-no e assimilam-no, para, novamente, o restituírem a essa fonte, quando deixarem de existir.

Os órgãos impregnam-se, por assim dizer, desse fluido vital e esse fluido dá a todas as partes do organismo uma actividade que os põe em comunicação entre si, nos casos de certas lesões, e normaliza as funções momentaneamente perturbadas. Mas, quando os elementos essenciais ao funcionamento dos órgãos estão destruí­dos, ou muito profundamente alterados, o fluido vital torna-se impotente para lhes transmitir o movimento da vida, e o ser morre.

A quantidade de fluido vital não é igual em todos os seres orgânicos. Varia segundo as espécies e não é constante, quer em cada indivíduo, quer nos indivíduos de uma espécie. Alguns acham-se, por assim dizer, saturados desse fluido, enquanto outros o possuem em quantidade apenas suficiente. Daí, para alguns, vida mais acti­va, mais tenaz e, de certa forma, superabundante.

A quantidade de fluido vital esgota-se. Pbde tornar-se insuficiente para a con­servação da vida, se não for renovada pela absorção e assimilação das substâncias que o contêm.

O fluido vital transmite-se de um indivíduo para outro. Aquele que o tiver em maior porção pode dá-lo a um que o tenha de menos e, em certos casos, prolongar a vida prestes a extinguir-se. (4)

RESUMO

DEUS

PROVAS DA SUA EXISTÊNCIA

Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

A prova da existência de Deus encontra-se nesta máxima: Não há efeito sem causa. Há uma imensidade de efeitos, cuja causa está acima da humanidade. Esses efeitos não se produzem ao acaso, pois do mais pequenino insecto ou semente, até à lei que rege os mundos que circulam no Espaço, tudo atesta uma causa soberana­mente inteligente.

Partindo-se do princípio de que todo o efeito inteligente há-de decorrer de uma causa inteligente e não encontrando essa causa na humanidade ela deve decor­rer de uma inteligência superior, chamando-a pelos nomes de Deus, Jeová, Alá, etc.

Há um provérbio que diz: Pela obra se reconhece o autor! Deus não se mos­tra, mas revela-se pelas suas obras.

O Universo não pode ter como causa primária o acaso nem as propriedades íntimas da matéria, que também tiveram uma causa. O acaso é cego e não pode produzir efeitos inteligentes. Um acaso inteligente já não seria acaso. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e aceitar que o nada pode fazer alguma coisa.

O homem não poderá perceber Deus com os órgãos materiais, que não são próprios para perceber a essência das coisas. Somente pela alma poderá ter a per­cepção de Deus. Porém, os espíritos esclarecem que a visão de Deus é um privilégio das almas purificadas e que bem poucas pessoas, ao deixarem o envoltório terrestre pela morte, se encontram no grau de desmaterialização necessária a tal efeito.

ATRIBUTOS DA DIVINDADE

O homem não pode perceber a natureza íntima de Deus porque lhe falta o sentido próprio, que se adquire pela completa depuração do espírito.

Todavia, se não pode penetrar na essência de Deus, desde que aceite a sua existência, o homem pode, pelo raciocínio, chegar a conhecer-Lhe os atributos neces­sários, porque, vendo o que Ele não pode ser, sem deixar de ser Deus, deduz-se daí o que deve ser.

Sem compreender os atributos de Deus, seria impossível compreender a obra da criação. É por não se terem baseado nisso que a maioria das religiões errou nos seus dogmas. As que não Lhe atribuíram a omnipotência, imaginaram muitos deu­ses; as que não lhe atribuíram a soberana bondade, fizeram-no um deus cioso, colé­rico, parcial e vingativo.

Na infância da humanidade, o homem confunde-O com a criatura, cujas im­perfeições Lhe atribui; à medida que se desenvolve nele o senso moral, penetra me­lhor a essência das coisas e faz ideia mais justa da Divindade, ainda que incompleta, porém mais conforme à sã razão.

Conforme a Doutrina Espírita, os atributos de Deus são os seguintes:

Deus é a suprema e soberana inteligência; é eterno; infinitamente perfeito; é imutável; é imaterial. Deus é único, omnipotente, soberanamente justo e bom.

Toda a crença, teoria, princípio ou dogma que estiver em contradição com um só desses atributos, que tenda, não tanto a anulá-lo, mas simplesmente a dimi­nuí-lo, não pode estar com a verdade.

Em filosofia, em moral, em religião, só é verdadeiro o que não se afaste, nem um til, das qualidades essenciais da Divindade.

ESPÍRITO E MATÉRIA

A matéria é o laço que prende o espírito; é o instrumento de que este se ser­ve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce a sua função.

O espírito é o princípio inteligente do Universo. A natureza íntima do espírito, porém, não é fácil de ser analisada com a nossa linguagem, por não podermos apre­ciá-la com os nossos sentidos.

O espírito e a matéria são elementos distintos, mas a sua união é necessária para intelectualizar a matéria. O homem não possui uma organização apta a perce­ber o espírito sem a matéria. Entende-se aqui por espírito o princípio da inteligência, abstracção feita das individualidades que por esse nome se designam. Pode conce­ber-se o espírito sem a matéria, e esta sem o espírito, pelo pensamento.

Há dois elementos gerais do Universo: a matéria e o espírito e acima de tudo Deus, o Criador, Pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princí­pio de tudo o que existe, a trindade universal.

Ao elemento material, todavia, tem que se juntar o fluido universal, que de­sempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o espírito possa actuar sobre ela.

O fluido universal distingue-se da matéria por propriedades especiais; é o flui­do susceptível, pelas suas inúmeras combinações com a matéria e sob a acção do espírito, de produzir a infinita variedade das coisas que apenas conhecemos uma parte mínima. Sem esse elemento primitivo ou universal, a matéria estaria em perpé­tuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.

A matéria, como a entendemos, é ponderável, mas considerada como fluido do Universo é etérea, subtil e imponderável. Daí a gravidade ser uma propriedade relativa. Fora das esferas de atracção dos mundos, não há peso, como não há alto nem baixo.

O Espaço Universal é ilimitado. Abrange a infinidade dos mundos que vemos e que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se mo­vem no espaço, assim como os fluidos que o enchem. A razão leva-nos a concluir que o Universo não pode ter-se formado por si mesmo nem por obra do acaso, mas que há-de ser obra de Deus.

O FRINCÍFIO DAS COISAS

Deus não permite que neste mundo tudo seja revelado ao homem. Assim, não lhe é dado conhecer o princípio das coisas. À medida que se depura é que o véu das coisas ocultas se levanta a seus olhos, pois para compreendê-las são necessárias faculdades que ainda não possui.

Ftela Ciência o homem pode penetrar nalguns segredos da Natureza; porém, não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu.

Se julgar conveniente, Deus pode revelar ao homem o que à Ciência não é dado compreender. Assim, recebe comunicações de ordem mais elevada acerca do que lhe escapa ao testemunho dos sentidos e por meio dos quais adquire, dentro de certos limites, o conhecimento do seu passado e do seu futuro.

O princípio das coisas, todavia, reside nos segredos de Deus. Com respeito a tudo que Ele não julgou conveniente revelar-nos, apenas se podem erguer sistemas mais ou menos prováveis.

FORMAÇÃO DOS SERES VIVOS

Houve tempo em que não existiam seres vivos na Terra; logo, eles tiveram começo. Cada espécie foi aparecendo à medida que o globo adquiria as condições necessárias à existência delas.

A Terra continha os germes dos seres vivos, que aguardavam momento favo­rável para se desenvolverem. Os princípios orgânicos congregaram-se, desde que cessou a actuação da força que os mantinha afastados e formaram os germes de todos os seres vivos, que permaneceram em estado latente de inércia, como a crisá­lida e as sementes das plantas, até ao momento próprio ao surto de cada espécie. Os seres de cada uma destas espécies reuniram-se, então, e multiplicaram-se.

Os elementos orgânicos, antes da formação da Terra, achavam-se em estado de fluido no Espaço, no meio dos espíritos, ou noutros planetas, à espera da criação da Terra para começarem a existência num novo globo.

A espécie humana encontrava-se entre os elementos orgânicos contidos no globo terrestre e veio a seu tempo. Quanto à época do aparecimento do homem e dos outros seres vivos na Terra, todos os cálculos humanos são quiméricos.

O homem surgiu em muitos pontos do globo e em várias épocas, o que tam­bém constitui uma das causas da diversidade das raças, além dos factores do clima, da vida e dos costumes.

O PRINCÍPIO VITAL

Os seres orgânicos são os que tem em si uma fonte de actividade íntima que lhes dá a vida. Nesta classe estão os homens, os animais e as plantas.

Seres inorgânicos são todos os que carecem de vitalidade, de movimentos próprios e que se formam apenas pela agregação da matéria, como os minerais, a água, o ar, etc.

A força que une os elementos da matéria nos corpos orgânicos e inorgânicos é a mesma. A matéria que os compõe também é a mesma, porém, nos corpos orgâ­nicos está aniima\izada pela sua união com o princípio vital.

A vida é um efeito devido à acção de um agente sobre a matéria que é o princípio vital. Esse agente, sem a matéria não é a vida, do mesmo modo que a ma­téria não pode viver sem esse agente. Ele dá a vida a todos os seres que o absorvem e assimilam.

O princípio vital tem por fonte o fluido universal. É o que chamamos de fluido magnético, ou fluido eléctrico animalizado. É o intermediário existente entre o espíri­to e a matéria. Ele é um só para todos os seres vivos, modificado segundo as espéci­es.

A actividade do princípio vital é alimentada durante a vida pela acção e funci­onamento dos órgãos. A causa da morte dos seres orgânicos é o esgotamento dos órgãos. A morte cessa aquela acção e o princípio vital extingue-se, mas o seu efeito sob o estado molecular do corpo subsiste mesmo depois dele extinto, como uma carbonização da madeira subsiste à extinção do calor.

Morto o ser orgânico, os elementos que o compõem sofrem novas combina­ções, de que resultam novos seres, os quais haurem na fonte universal o princípio da vida e da actividade; absorvem-no e assimilam-no, para, novamente, o restituírem a essa fonte, quando deixarem de existir.

A quantidade de fluido vital não é igual em todos os seres orgânicos. Varia segundo as espécies e não é constante, quer em cada indivíduo, quer nos indivíduos de uma espécie. Alguns acham-se saturados dele, enquanto outros o possuem em quantidade apenas suficiente.

A quantidade de fluido vital esgota-se. Se não for renovada pela absorção e assimilação das substâncias que o contêm pode tornar-se insuficiente para a conser­vação da vida.

O fluido vital pode ser transmitido de um indivíduo que o tiver em maior por­ção a outro que o tenha de menos e, em certos casos, prolongar a vida prestes a extinguir-se.

BIBLIOGRAFIA

(1) Allan Kardec, A Génese, Caps. II e X, 18.a Edição (Fopular), 1976, Federação Espí­rita Brasileira

(2) Allan Kardec, Obras Fbstumas, 1.a Farte, §1°, §3°, 13.a Edição, Federação Espírita Brasileira

(3) Ftedro Franco Barbosa, Espiritismo Básico, 2.a Farte, 1.a Edição, 1976, Editado pelo Centro Brasileiro de Homeopatia, Espiritismo e Obras Sociais - CBHEOS

(4) Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, FTimeira Farte, Caps. I, II, III e IV, 33.a Edição, 1974, Federação Espírita Brasileira

(5) José Soares Cardozo, Onde Está Deus?, 1976, São Faulo, Editora Tempos Novos Ltda.

(6) Mínimus, Noções de Filosofia Espírita, 2.a Edição, Federação Espírita Brasileira

(7) Emmanuel, A Caminho da Luz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, Cap. II, 5.a Edição, Federação Espírita Brasileira

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