segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS

CAPITULO 7 SUMÁRIO

7 PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS

7.1 INTRODUÇÃO 7.1.2 Estudo histórico

7.2 PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA À DOUTRINA DOS MUNDOS HABITADOS

7.2.1 Encarnação de Deus sobre a Terra

7.2.2 A criação dos astros na génese bíblica

7.2.3 A descendência adâmica

7.2.4 A parada do Sol e da Lua

7.2.5 Salvação da Humanidade pelo sangue de Jesus

7.3 HÁ MUITAS MOFADAS NA CASA DO MEU PAI

7.4 TRANSMIGRAÇÕES PROGRESSIVAS

7.5 UNIVERSO INFINITO - Rova racional da existência de outros mundos habitados

7. PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS

7.1. INTRODUÇÃO

Allan Kardec pergunta aos espíritos se os globos que se movem no espaço são habitados, ao que eles respondem que sim, que o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. Entretan­to, há homens que se têm por espíritos muito fortes e que imaginam pertencer só a este pequenino globo o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade! Jul­gam que Deus só criou para eles o universo.

Deus povoou de seres vivos os mundos, concorrendo todos esses seres para o objectivo final da Providência. Acreditar que só os haja no planeta que habitamos seria duvidar da sabedoria de Deus, que não faz coisa alguma inútil. Certo, a esses mundos há-de ter dado um destino mais sério do que o de nos recrearem a vista.

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Aliás, nada há, nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa induzir à suposição de que ela goze, o privilégio exclusivo de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de milhões de mundos semelhantes. (5) (*)

As condições de existência dos seres que habitam os diferentes mundos hão- de ser adequadas ao meio em que lhes cumpre viver. Ste jamais tivéssemos visto pei­xes, não compreenderíamos que pudesse haver seres que vivessem dentro da água. Assim acontece em relação aos outros mundos que, sem dúvida, contêm elementos que desconhecemos. Não vemos na Terra as longas noites polares iluminadas pela electricidade das auroras boreais? Que há de impossível em ser a electricidade, nal­guns mundos, mais abundante do que na Terra e desempenhar neles uma função de ordem geral, cujos efeitos não podemos compreender? Bem pode suceder, portanto, que esses mundos tragam em si mesmos as fontes de calor e luz necessárias aos seus habitantes. (5)

(*) Os algarismos colocados entre parênteses correspondem, na bibliografia, no final dos resumos de cada capítulo, aos mesmos algarismos com que estão assinaladas as fontes que serviram de base ao texto, ou extraídas as citações.

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7.1.1. ESTUDO HISTÓRICO

Esta crença íntima que nos mostra o Universo como um vasto império em que a vida se desenvolve sob as formas mais variadas, em que milhares de nações vivem simultaneamente na extensão dos céus, parece contemporânea do estabelecimento da inteligência humana sobre a Terra. Todos os povos, e principalmente os hindus, chineses e árabes, conservaram até aos nossos dias tradições teogónicas, em que se reconhece, entre os dogmas antigos, o da pluralidade das habitações humanas nos mundos que brilham por cima da nossa cabeça; e, remontando às primeiras páginas dos anais históricos da humanidade, encontra-se esta mesma ideia: ou religiosa, pela transmigração das almas e seu estado futuro; ou astronómica, simplesmente pela habitabilidade dos astros. (3)

clip_image002Os livros mais antigos que possuímos, dos vedas, génese antiga dos hindus, professam a doutrina da pluralidade das habitações da alma humana nos astros. Para nos atermos à doutrina da pluralidade dos mundos, e à antiguidade histórica e clássica, que é a única que podemos estudar com algum fundamento de certeza, notaremos, primeiramente, que o Egipto, berço da filosofia asiática, tinha ensinado aos seus sábios esta antiga doutrina. Talvez os egípcios não a estendessem, então, senão aos sete planetas prin­cipais e à Lua, que chamavam de terra etérea; seja como for, é notório que professavam altamente esta crença. (3) **

A maior parte das seitas gregas ensinaram- na; ou abertamente, a todos os discípulos sem distinção; ou em segredo, aos iniciados da filo­sofia. (3)

Os filósofos da mais antiga seita grega, a seita jónica, cujo instituidor, Thales, acreditava que as estrelas eram formadas da mesma substância que a Terra, perpe­tuaram no seu seio as ideias da tradição egípcia, implantadas na Grécia. Anaximan- dro e Anaximenes, sucessores imediatos do chefe da escola, ensinaram a pluralidade dos mundos, doutrina que foi mais tarde espalhada por Empédocles, Aristarco, Leu- cipo e outros. Anaxágoras ensinou a habitabilidade como artigo de crença filosófica. Partidário famoso do movimento da Terra, é notável que a sua opinião suscitasse em redor dele invejosos e fanáticos e que, por haver dito que o Sol era maior que o Fte- loponeso, fosse perseguido e quase assassinado. (3)

O primeiro dos gregos que teve nome de filósofo, Pitágoras, ensinava ao pú­blico a imobilidade da Terra e o movimento dos astros em redor dela, e aos seus adeptos privilegiados declarava a sua crença no movimento da Terra como planeta e na pluralidade dos mundos. (3)

A escola de Epicuro ensinou a pluralidade dos mundos; e a maior parte dos seus adeptos não só compreendiam os corpos planetários debaixo do título de mun­dos habitáveis, como acreditavam ainda na habitabilidade de uma multidão de cor­pos celestes disseminados no espaço. Metródoro de Lampsaque, entre outros, acha­va que seria tão absurdo reconhecer um só mundo habitado no espaço infinito como dizer que não poderia crescer mais do que uma espiga de milho num campo vasto. Anaxarque dizia a mesma coisa a Alexandre, o Grande, admirando-se, quando havia

** Os antigos conheciam apenas sete planetas, pois Neptuno foi descoberto no dia 23 de Setembro de 1846, por Johann Gottfried Galle e Plutão, em Março de 1930, por C. Tombaugh, do observatório Lowell, em Flagstaff, Arizona.

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tantos mundos habitados, de ter ocupado, com a sua glória, somente um. (3)

Um grande número de sectários da escola epicurista, entre os quais citaremos Lucrécio, acreditou não só na pluralidade como, ainda mais, na infinidade dos mun­dos. Afirmava ele: "Todo este universo visível não é único na natureza, e devemos crer que há, em outras regiões do espaço, outras terras, outros seres e outros ho­mens”. E acrescentava: "Se as inúmeras ondas criadoras se agitam e nadam sob mil formas variadas e através do oceano do espaço infinito, não teriam produzido, na sua luta fecunda, só o orbe Terra e a sua abóbada celeste. É crível que além deste mundo uma vasta aglomeração de elementos se condene a um ocioso repouso? Não, não; se os princípios geradores deram nascimento às massas donde saíram o céu, as ondas, a Terra e seus habitantes, devemos convir que, no resto do vácuo, os elementos da matéria engendraram um sem-número de seres animados, de mares, de céus e terras, e semearam o espaço de mundos semelhantes àquele que se balan­ça, debaixo dos nossos passos, nas ondas aéreas.” (3)

clip_image003Em seguida, e isto durou um milénio e meio, a Rteligião Católica, vitoriosa, deveria estabelecer a Terra, conforme os ensinamentos de Ptolomeu, como centro do Universo, cerceando o aprofundamento das teorias da multiplicidade dos mundos habitados. Foi o grande astrónomo polaco Copérnico quem, depois de haver derrubado o sistema de Ptolomeu, pela primeira vez demonstrou à humanidade o verdadeiro lugar que lhe competia. Estando a Terra colocada no seu devido lugar, a possi­bilidade de vida noutros planetas passava a ter um fundamento científico. As primei­ras observações feitas com o auxílio do telescópio, com as quais inaugurava Galileu uma nova era para a Astronomia, inflamaram a imaginação dos contemporâneos. Tornou-se claro que os planetas eram corpos celestes bastante parecidos com a Terra. E isto levava naturalmente à formulação da pergunta: Porque haveria o nosso Sol ser o único astro acompanhado de um séquito de planetas? O grande pensador Giordano Bruno exprimiu essas audaciosas ideias revestindo-as de uma forma clara e inequívoca: "Existe uma infinidade de sóis e terras girando em torno de seus sóis, tal como os nossos sete planetas giram em torno do nosso Sol... seres vivos habitam esses mundos.” Foram cruéis as represálias da Igreja Católica: declarado herege pelo Santo Ofício, Bruno morreu queimado, em Rbma, no Campo dei Fiori, no dia 17 de Fevereiro de 1600. (8)

Na segunda metade do século XVI, e durante o século XVII, sábios, filósofos e escritores consagraram um bom número de livros a esse problema do universo. Enumeremos Cyrano de Bergerac, Fontenelle, Huygens e Voltaire, entre outros. (8) Vejamos o sábio russo Lomonossov, Kant, Laplace, Herschel, e haveremos de observar que a ideia da pluralidade dos mundos habitados se difundiu absolutamen­te por toda a parte, sem que ninguém, ou quase ninguém, nos meios científicos e filosóficos, se atrevesse a levantar a voz contra ela. (8)

Na segunda metade do século XIX, o livro de Flamarion La Pluralité des Mon­des Habités conheceu enorme popularidade: somente na França, foi trinta vezes reeditado em vinte anos, tendo sido traduzido para vários idiomas. Fàrtindo de
ditado em vinte anos, tendo sido traduzido para vários idiomas. Partindo de posições idealistas, Flamarion admitia ser a vida o objectivo final da formação dos planetas. Rtevelando um apurado senso de humor e redigidos em estilo muito vivo, embora algo rebuscado, os seus livros causaram excelente impressão sobre os seus conterrâ­neos. O leitor actual impressiona-se, sobretudo, pela desproporção existente entre a quantidade insignificante de conhecimentos exactos sobre a natureza dos corpos celestes (a Astrofísica mal acabara de nascer) e o tom incisivo adoptado pelo autor para afirmar a pluralidade dos mundos habitados. Flamarion dirigia-se mais à sensibi­lidade do que ao raciocínio. (8)

O russo Constantin Tsiolkovski, pai da Astronáutica, foi um ardoroso defensor dos mundos habitados. Reproduziremos apenas algumas das suas frases: "Será lícito imaginar uma Europa povoada e as outras partes do mundo não?’. E de seguida: "Os diversos planetas apresentam as diversas fases da evolução dos seres vivos. O que foi a humanidade há alguns milhares de anos, o que virá a ser dentro de alguns milhões de anos, tudo isto poderemos aprender interrogando os planetas”. (8)

A história da pluralidade dos mundos habitados está intimamente ligada à das concepções cosmogónicas. Assim, durante a primeira terça parte do século XX, quando tinha livre curso a hipótese cosmogónica de Jeans, segundo a qual o Sol de­via o seu cortejo de planetas a uma catástrofe cósmica extremamente rara (o semi- choque de duas estrelas), a maioria dos sábios considerava a vida como um fenóme­no excepcional no Universo. (8)

A nossa galáxia conta mais de cem biliões de estrelas: parecia bastante im­provável, portanto, que nela não se encontrasse pelo menos uma - sem falar no Sol - que não contasse com um sistema planetário. A derrocada da teoria de Jeans, depois de 1930, e a ascensão da Astrofísica, têm grandes probabilidades de nos levar à con­clusão de que existem na nossa galáxia sistemas planetários em grande quantidade, constituindo o sistema solar mais uma regra do que uma excepção no mundo dos astros. Contudo, ainda não está suficientemente demonstrada esta tão provável su­posição. (8)

"A União Soviética, ao colocar em órbita, no dia 4 de Outubro de 1957, o primeiro satélite artificial da Terra, inaugurou uma etapa inteiramente nova na histó­ria da ideia da pluralidade dos mundos habitados. A partir de então foram rápidos os progressos obtidos no estudo e na conquista do espaço circum-terrestre, coroado pelos voos dos cosmonautas soviéticos e, posteriormente, pelos americanos. Os ho­mens tomaram subitamente consciência do facto de habitarem um minúsculo plane­ta solto na imensidão do espaço cósmico. Todos, é claro, tinham aprendido um pou­quinho de astronomia na escola e, teoricamente, ninguém ignorava a situação da Terra no Cosmos; a actividade prática, no entanto, continuava dirigida por um geo- centrismo espontâneo. Por este motivo, nunca será demasiado insistir em recordar a revolução esperada na consciência dos homens nesta fase inicial de uma nova era da história humana, era do estudo directo e, algum dia, da conquista do Cosmos. (8)

Assim, o problema da existência de vida em outros mundos saiu do campo da abstracção, para adquirir uma significação concreta. Estará resolvido experimental­mente, dentro de alguns anos, na parte referente aos planetas do sistema solar.” (Introdução do trabalho de Slklovski, director do Instituto de Astronomia da Universi­dade de Moscovo, citado por fóuwels e Bergier). (8)

A partir de Copérnico e Galileu, as velhas cosmogonias deixaram para sempre de subsistir. A Astronomia só podia avançar, não recuar. A história diz das lutas que esses homens de génio tiveram de sustentar contra os preconceitos e, sobretudo, contra o espírito de seita, interessado em manter erros sobre os quais se tinham fun­dado crenças supostamente firmadas em bases inabaláveis. Bastou a invenção de um instrumento de óptica para derrocar uma construção de muitos milhares de anos. (7)

7.2. PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA À DOUTRINA DOS MUNDOS HABITADOS

Para tolher o progresso da Ciência, coibir a liberdade de pensamento e com­bater a doutrina da pluralidade dos mundos habitados, que vinha colocar em descré­dito a interpretação literal dos livros sagrados, a Rsligião tomou como estandarte as palavras de Tertuliano: "Não temos necessidade de nenhuma ciência depois do Cris­to, nem de nenhuma prova depois do Evangelho; quem crê nada mais deseja; a ig­norância é boa, em geral, para que não se chegue a conhecer o que é inconvenien­te.”

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A interpretação errónea dos livros sagrados sobre a imobilidade da Terra co­bria, já com um véu espesso os olhos dos homens desejosos de conhecer, e a aceita­ção tácita do pensamento de Tertuliano, reverenciado por muitos como sentença, encobriu a doutrina da pluralidade dos mundos habitados durante séculos e séculos.

Da parte da Religião havia necessidade de um ferrenho combate a essa dou­trina, porque contrariava os seus dogmas.

Analisemos esses dogmas.

7.2.1. A ENCARNAÇÃO DE DEUS SOBRE A TERRA

Essa doutrina traria aos teólogos enorme dificuldade para responder à ques­tão: "A Terra que habitamos, não sendo mais do que um átomo insignificante na universalidade dos mundos, sobre que fundaria o privilégio com que a gratificaram de ter sido o objecto especial da complacência divina, de haver recebido na sua habi­tação o próprio Eterno, que não desdenhara descer a encarnar-se num pouco de poeira terrestre?”

O homem, criatura que Deus fez à sua imagem, peca e cai logo no primeiro dia da sua existência; Deus, cheio de uma bondade compassiva, desce, Ele próprio, para levantá-lo. Eis aí uma crença muito doce e consoladora para o homem, que pode apresentar, sem demasiados mistérios, o que os espíritos mais simples podem aceitar e compreender. Porém, já não é assim desde que a revelação astronómica faz perder à Terra e ao homem todo o seu prestígio, ao mesmo tempo que eleva Deus a uma altura inacessível. Esta Terra privilegiada, que digo eu, esta Terra única, estava
outrora envolvida numa auréola resplandecente; porém, um belo dia os nossos olhos abriram-se, olhámo-la na face, esta Terra cercada de glória, e repentinamente a sua auréola brilhante dissipa-se. O palácio dos homens perdeu a sua riqueza aparente, afundou-se na obscuridade, e logo uma multidão de outras terras apareceram atrás dele, enchendo espaços sem fim. Desde então o aspecto do mundo modificou-se e com ele crenças que até então pareciam estar solidamente fundadas. (3)

Desde a época de Copérnico e Galileu sentira-se, em toda a sua profundidade, as dificuldades que o novo sistema do mundo ia suscitar contra o dogma do Verbo encarnado. Não se deve ver somente um negócio de ciúme ou de jesuitismo no me­morável processo de Galileu. Não é a pessoa do ilustre toscano que tiveram em vista, porém os princípios que ele defendia. O movimento da Terra uma vez demonstrado, a Igreja deveria desde então interpretar num sentido figurado as passagens das Escri­turas que lhe são contrárias.(3)

7.2.2. A CRIAÇÃO DOS ASTROS NA GÉNESE BÍBLICA

A doutrina da pluralidade dos mundos habitados viria trazer inúmeros pro­blemas para a interpretação do Génesis de Moisés, que afirma terem sido os astros criados somente no quarto dia da criação, para iluminar a Terra e marcar-lhe o tem­po e as estações do ano.

clip_image005“ E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e para anos.

E sejam para luminares na expansão dos céus, para alumiar a Terra. E assim foi.

E fez Deus os dois grandes luminares; o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas.

E Deus os pôs na expansão dos céus para alumiar a Terra.

E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que era bom.

E foi a tarde e a manhã do dia quarto.” (Génesis, Moisés, cap. I, v. 14 a 19)

(1)

A Terra, não sendo mais privilegiada de entre as demais obras da criação uni­versal, colocaria em posição difícil aqueles que ainda lutavam para que os livros sa­grados fossem interpretados segundo a letra, e não conforme o espírito, que vivifica. A Astronomia demonstrando que os mundos se sucedem ao infinito e que a Terra gravita em torno do Sol, como conciliar a ideia de que só depois de formar este pla­neta, no quarto dia, teria o Criador criado o Stol e a Lua? Surgiu, então, a necessida­de do combate sem tréguas da religião dogmática à doutrina dos mundos habitados.

7.2.3. A DESCENDÊNCIA ADÂMICA

clip_image006Com a pluralidade dos mundos habitados cairia por terra a doutrina de um único casal, criado à imagem e seme­lhança de Deus, para povoar toda a Terra e únicas criaturas do Universo. Também a doutri­na do pecado original estaria invalidada.

Havendo outros mundos e outros habitantes longe da Terra, por certo não descende­riam de Adão e como tal Deus houvera criado, noutros lugares e noutro tempo, as suas criatu­ras que também deveriam lutar, sofrer, aprender, progredir na grande marcha evolutiva, que se constitui lei do Universo. E essas criaturas nenhuma ligação teri­am com o pecado original do casal primitivo, que afirmam ser herança inesgotável dos viven­tes da Terra.

7.2.4. A PARADA DO SOL E DA LUA

“Então Josué falou ao Senhor no dia em que o Senhor deu os amorreus na mão dos filhos de Israel, e disse aos olhos dos israelitas: Stol, detém-te em Gibeão, e tu, Lua, no vale da Aijalom.

E o Sol se deteve, e a Lua parou, até que o povo se vingou dos seus inimigos. Isto não está escrito no livro de Reto? O Sol, pois, deteve-se no meio do céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro.” (Josué, cap. 10, v. 12 e 13) (1)

As observações da Astronomia contrariam a passagem acima, comprovando que a Terra é que se move ao redor do Sol, só poderiam gerar revoltas e persegui­ções, como as sofridas por Giordano Bruno e Galileu Galilei.

Desaparecendo o suposto privilégio da Terra, por ser igual a milhões e mi­lhões de mundos, também desapareceria a ideia de um povo eleito, em detrimento de outros, e mesmo girando a Terra em redor do Sol não poderia o Senhor parar este, para que o dia se prolongasse até que a batalha fosse vencida.

Tais argumentos colocariam em risco a credibilidade das Escrituras Sagradas. Daí as perseguições às teorias heliocêntrica e da pluralidade dos mundos habitados.

7.2.5. A SALVAÇÃO DA HUMANIDADE PELO SANGUE DE JESUS

Diz o dogma que o Cristo deu a sua vida em holocausto para que o seu san­gue lavasse a alma do homem, manchada pelo pecado original.

Com a doutrina da pluralidade dos mundos habitados, existindo, então, hu­manidades que não estariam vinculadas ao pecado original cometido pelo primeiro casal da Terra, já não haveria lógica na salvação pelo sangue derramado do Cordeiro Divino.

Para que esse dogma continuasse a vigorar entre os crentes, não poderia ha­ver outro mundo habitado além da Terra e toda a humanidade deveria descender do casal inicial e trazer consigo a mácula da desobediência perpetrada por eles à ordem do Senhor e necessitar do sangue de Jesus para redimi-los.

7.3. HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DO MEU PAI

“Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Fai; se assim não fosse já vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar.” (S João, cap. XIV, v. 1) (1)

clip_image007A casa do Fai é o Universo. As dife­rentes moradas são os mundos que circu­lam no espaço infinito e oferecem, aos es­píritos que neles encarnam, moradas cor­respondentes ao seu adiantamento. (6)

Do ensino dado pelos espíritos, re­sulta que são muito diferentes umas das outras as condições dos mundos, quanto ao grau de adiantamento ou de inferiori­dade dos seus habitantes. Há entre eles, os que são inferiores à Terra, física e moral­mente; outros, da mesma categoria que o nosso; e outros que lhe são mais ou menos superiores em todos os aspectos. Nos mundos inferiores, a existência é toda ma­terial, reinam soberanas as paixões, sendo quase nula a vida moral. À medida que esta se desenvolve, diminui a influência da matéria, de tal maneira que, nos mundos mais adiantados, a vida é, por assim dizer, toda espiritual. (6)

Nos mundos intermediários mistu­ram-se o bem e o mal, predominando um ou outro, segundo o grau de adiantamento da maioria de quem os habita. Embora se não possa fazer, dos diversos mundos, uma classificação absoluta, pode-se, con­tudo, em virtude do estado em que se acham e da destinação que trazem, tomando por base os matizes mais adiantados, dividi-los, de modo geral, como segue:

1. Mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma humana;

2. Mundos de expiação e provas, onde domina o mal;

3. Mundos de regeneração, nos quais as almas que ainda têm que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas das lutas;

4. Mundos ditosos, onde o bem sobrepuja o mal;

5. Mundos celestes ou divinos, habitações de espíritos depurados, onde exclu­sivamente reina o bem.

A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão porque aí vive o homem a braços com tantas misérias. (6)

7.4. TRANSMIGRAÇÕES PROGRESSIVAS

clip_image008A vida do espírito, no seu conjunto, apresenta as mesmas fases que observamos na vida corporal. Ele passa, gradualmente, do estado de embrião ao de infân­cia, para chegar, percorrendo sucessivos períodos, ao de adulto, que é o da perfeição, com a diferença de que para o espírito não há declínio, nem decrepitude, como na vida corporal; que a sua vida, que teve começo, não terá fim; que imenso tempo lhe é necessário, para passar da infância espiritual ao completo desenvolvimento; e que o seu pro­cesso se realiza não num único mundo, mas vivendo em mundos diversos. A vida do espírito, pois, compõe-se de uma série de existências corpóreas, cada uma das quais representa para ele uma ocasião de progredir, do mesmo modo que cada existência corporal se compõe de uma série de dias, em cada um dos quais o homem obtém um acréscimo de experiência e instrução. Mas, assim como na vida do homem há dias que nenhum fruto produzem, na do espírito há existências corporais que nenhum resultado colhe, porque não as soube aproveitar. (5)

Ninguém, por um proceder impecável na vida actual, poderá transpor todos os graus da escala do aperfeiçoamento e tornar-se espírito puro, sem passar por graus intermediários.

O que o homem julga perfeito está longe da perfeição. Há qualidades que lhe são desconhecidas e incompreensíveis. Ftoderá ser tão perfeito quanto o comporte a sua natureza terrena, mas isso não é a perfeição absoluta. Dá-se com o espírito o que se verifica com a criança que, por mais precoce que seja, tem de passar pela juventude, antes de chegar à idade da madureza; e também com o enfermo que, para recobrar a saúde, tem que passar pela convalescença. Além disso, cumpre ao espírito progredir em ciência e moral. Se somente se adiantou num sentido importa que se adiante no outro, para atingir o extremo superior da escala. Contudo, quanto
mais o homem se adiantar na sua vida actual, tanto menos longas e penosas lhe se­rão as provas que se seguirem. (5)

Nas suas novas existências, um homem poderá descer mais baixo do que este­ja na actual, somente do ponto de vista social, mas não como espírito.

A marcha dos espíritos é progressiva, jamais retrograda. Elevam-se gradual­mente na hierarquia e não descem da categoria a que ascenderam. Nas suas diferen­tes existências corporais podem descer como homens, não como espíritos. Assim, a alma de um potentado da Terra pode mais tarde animar o mais humilde obreiro e vice-versa; é por isso que, entre os homens, as categorias estão, frequentemente, na razão inversa da elevação das qualidades morais. Herodes era rei e Jesus carpinteiro.

(5)

clip_image009Aquele que pensa em perseverar no mau caminho, baseado na possibilidade de melhorar-se noutra existência, que poderá corrigir-se mais tarde, está equivocado; em nada acredita e a ideia de um castigo eterno não o refrearia mais do que qualquer outra, porque a sua razão a repele, e semelhante ideia induz à incredulida­de, a despeito de tudo. Na Terra, os homens são desigualmente adiantados. Uns já dispõem de experiências que a outros faltam, mas que adquirirão pouco a pouco. De­pende deles acelerar o progresso ou retardá-lo indefinidamente.

O homem que ocupa uma posição má deseja trocá-la o mais depressa possível. Aquele que se acha persuadido de que as tribulações da vida terrena são consequência das suas imperfeições, procurará garantir para si uma nova existência menos penosa e esta ideia o desviará mais depressa da senda do mal do que a do fogo eterno, em que não acredita.

Se o homem tivesse uma única existência e se, extinguindo-se-lhe, a sua sorte ficasse decidida para a eternidade, qual seria o mérito de metade do género humano, que morre na infância, para gozar, sem esforços, da felicidade eterna e com que direito se acharia isenta das condições, às vezes tão du­ras, a que se vê submetida a outra metade? Semelhante ordem de coisas não cor­responderia à justiça de Deus. Com a reencarnação, a igualdade é real para todos. O futuro toca a todos, sem excepções e sem favor para quem quer que seja. Os retar­datários só de si mesmos se podem queixar. É forçoso que o homem tenha o mere­cimento dos seus actos, como deles tem a responsabilidade. (5)

Chegado ao termo que a Providência lhe assinou à vida na erraticidade, o próprio espírito escolhe as provas a que deseja submeter-se para apressar o seu adi­antamento, isto é, escolhe meios para adiantar-se e tais provas estão sempre em
relação com as faltas que lhe cumpre expiar. Se delas triunfa, eleva-se; se sucumbe, tem que recomeçar. (5)

O espírito goza sempre do livre-arbítrio. Em virtude dessa liberdade é que es­colhe, quando desencarnado, as provas da vida corporal e que, quando encarnado, decide fazer, ou não, uma coisa e procede à escolha entre o bem e o mal. Negar ao homem o livre-arbítrio seria reduzi-lo à condição de máquina. (5)

Mergulhado na vida corpórea, o espírito perde, momentaneamente, a lem­brança de suas vidas anteriores, como se um véu as cobrisse. Todavia, conserva al­gumas vezes vaga consciência dessas vidas, que, mesmo em certas circunstâncias, lhe podem ser reveladas. Esta revelação,porém, só os espíritos superiores lha fazem, espontaneamente, com um fim útil, nunca para satisfazer a vã curiosidade. (5)

As existências futuras, essas em nenhum caso podem ser reveladas, pois de­pendem do modo como o espírito se sair na existência actual e da escolha que ulte­riormente faça. (5)

O esquecimento das faltas praticadas não constitui obstáculo à melhoria do espírito, pois se é certo que este não se lembra delas com precisão, não é menos certo que a circunstância de as ter conhecido na erraticidade e de haver desejado repará-las o guia, por intuição, e lhe dá a ideia de resistir ao mal, ideia que é a voz da consciência, tendo a secundá-la os espíritos superiores que o assistem, se atende às boas inspirações que lhe dão. (5)

O homem não conhece os actos que praticou nas suas existências pretéritas, mas pode sempre saber qual o género de faltas de que se tornou culpado e qual o cunho predominante do seu carácter. Bastará, então, julgar o que foi, não pelo que é, mas pelas suas tendências. (5)

As vicissitudes da vida corpórea constituem expiação das faltas do passado e, simultaneamente, provas em relação ao futuro. Depuram-nos e elevam-nos, se as suportamos resignados e sem murmurar. (5)

A natureza dessas vicissitudes e das provas que sofremos também nos podem esclarecer acerca do que fomos e do que fizemos, do mesmo modo que neste mun­do julgamos os actos de um culpado pelo castigo que a lei lhe infringe. Assim, o or­gulhoso será castigado no seu orgulho, mediante a humilhação de uma existência subalterna; o mau rico, o avarento, pela miséria; o que foi cruel para os outros, pelas crueldades que sofrerá; o tirano, pela escravidão; o mau filho, pela ingratidão de seus filhos; o preguiçoso, por um trabalho forçado, etc. (5)

7.5. UNIVERSO INFINITO - EVIDÊNCIA RACIONAL DA EXISTÊNCIA DE OUTROS MUNDOS HABITADOS

Buscando argumentos racionais que justifiquem a doutrina da pluralidade dos mundos habitados não se pode olvidar a vastidão do Universo, com os seus incontá­veis planetas, sistemas solares, galáxias, etc.

Com o avanço da Astronomia e da Astrofísica evidencia-se um Universo infini­to, e afirmar que só a Terra teria o privilégio

de possuir uma humanidade seria condenar essa humanidade a ser excepção dentro das Leis Naturais ou Divinas.

A ideia de o Universo ser infinito surgiu com Filipo Giordano Bruno, um ex- monge dominicano, que foi queimado publicamente, depois de passar sete anos no
cárcere por causa das suas ideias heréticas e por se recusar a abjurar as suas crenças diante da Inquisição romana.

Ao contrário de Galileu Galilei, que, alquebrado, alguns anos mais tarde abju­rou a teoria de Copérnico (continuando, porém, a desenvolver com os seus discípulos uma moderna Cosmologia, no seu exílio em Arcetri, perto de Florença), Giordano Bruno não pôde ser convencido pela Inquisição a abjurar as suas teorias. Estas não se resumiam apenas na defesa do sistema de Copérnico, que irritava a Igreja, mas inclu­íam também a sua opinião de que o Universo não era limitado por um invólucro, mas sim formado por uma quantidade infinita de estrelas, sendo incomensuravelmente grande. (4)

No Cap. VI de A Génese, de Allan Kardec, temos um trecho da comunicação de Galileu a Camille Flamarion.

Nele encontra-se o seguinte: "...Com efeito, a Via Láctea é uma campina ma­tizada de flores solares e planetárias, que brilham em toda a sua extensão. O nosso Sol e todos os corpos que o acompanham fazem parte desse conjunto de globos

clip_image010radiosos que formam a Via Láctea. Mau grado, as suas proporções gigantescas, relativamente à Terra, e à grandeza do seu império, ele, o Sol, ocupa inapreciável lugar em tão vasta criação. Fbdem contar- se por uma trintena de milhões os sóis que, à sua semelhança, gravitam nessa imensa região, afastados uns dos outros mais de cem mil vezes o raio da órbita terrestre. (7) [1]

For esse cálculo aproximativo se pode julgar da extensão de tal região sideral e da relação que existe entre o nosso sistema planetário e a universalidade dos sistemas que ela contém. Fode-se igualmente julgar da exiguidade do domínio solar e, concluir do nada que é a nossa pequenina Terra. (7) Assim, fica-se a conhecer a posição que o nosso Sol ou a Terra ocupam no mundo das estrelas. Ainda maior peso ganharão estas considerações se reflectirmos sobre a própria Via Láctea que, na imensidade das criações siderais, não representa mais do que um ponto insensível e inapreciável, vista de longe, por­quanto ela não é mais do que uma nebulosa estelar, entre os milhões das que exis­tem no espaço. Se ela nos parece mais vasta e mais rica do que as outras é pela úni­ca razão de que nos cerca e se desenvolve em toda a sua extensão sob os nossos olhares, ao passo que as outras, sumidas nas profundezas insondáveis, mal se dei­xam entrever. (7)

Ora, sabendo-se que a Terra nada é, ou quase nada, no sistema solar; que este nada é, ou quase nada, na Via Láctea; esta, por sua vez, nada, ou quase nada, na universalidade das nebulosas, e essa própria universalidade bem pouca coisa dentro do incomensurável infinito, começa-se a compreender o que é o Globo Ter­restre. (7)

RESUMO

INTRODUÇÃO

Deus povoou de seres vivos os mundos, concorrendo todos esses seres para o objectivo final da Providência. Acreditar que só os haja no planeta que habitamos seria duvidar da sabedoria de Deus, que não faz coisa alguma inútil.

As condições de existência dos seres que habitam os diferentes mundos hão- de ser adequadas ao meio em que lhes cumpre viver.

ESTUDO HISTÓRICO

Remontando às primeiras páginas dos anais históricos da humanidade, encon­tra-se a ideia da pluralidade dos mundos habitados; ou religiosa, pela transmigração das almas e seu estado futuro; ou astronómica, simplesmente pela habitabilidade dos astros. Todos os povos, e principalmente os hindús, chineses e árabes conservaram até aos nossos dias tradições teogónicas em que se reconhece a pluralidade das ha­bitações humanas nos mundos que brilham por cima da nossa cabeça.

Os livros dos vedas, génese antiga dos hindus, professam a doutrina da plura­lidade das habitações da alma humana nos astros.

O Egipto, berço da filosofia asiática, tinha ensinado aos seus sábios esta anti­ga doutrina.

A maior parte das seitas gregas ensinaram-na; ou abertamente, a todos os discípulos sem distinção; ou em segredo, aos iniciados da filosofia. Thales, Anaxi- mandro, Anaximene, Empédocles, Aristarco, Leucipo, e outros, ensinaram a plurali­dade dos mundos habitados. Anaxágoras ensinou a habitabilidade como artigo de crença filosófica; partidário do movimento da Terra, suscitou invejosos e fanáticos, que o perseguiram, e quase o assassinaram, por afirmar que o Sol era maior que o Pteloponeso. Pitágoras, Epicuro e a sua escola, Metródoro de Lampsaque, Anaxarque e Lucrécio também contribuíram com as suas afirmações favoráveis à pluralidade dos mundos habitados.

Com o astrónomo polaco Copérnico, que derrubou a teoria da Terra como centro do Universo, abriram-se novos campos ao pensamento. Com a Terra colocada no seu devido lugar, a possibilidade de vida noutros planetas passava a ter um fun­damento científico.

Com o auxílio do telescópio, tornou-se claro que os planetas eram corpos ce­lestes bastante parecidos com a Terra e Giordano Bruno afirmou que seres vivos ha­bitam esses mundos.

Nos séculos XVI e XVII sábios, filósofos e escritores consagraram bom número de livros ao problema da vida no Universo.

Na segunda metade do século XIX, Camille Flamarion lança o livro A Rurali­dade dos Mundos Habitados, que ganha enorme popularidade.

O russo Constantin Tsiolkovski, pai da astronáutica, foi um ardoroso defensor da pluralidade dos mundos habitados.

O homem, ao colocar em órbita, em 1957, o primeiro satélite artificial, inau­gurou uma etapa inteiramente nova na história da ideia da pluralidade dos mundos habitados, operando uma revolução na consciência de todos nesta fase inicial de

uma nova era da história humana, era do estudo directo e, algum dia, da conquista do Cosmos.

PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA À DOUTRINA DOS MUNDOS HABITADOS

A interpretação errónea dos livros sagrados sobre a imobilidade da Terra e a aceitação dogmática do pensamento de Tertuliano, segundo o qual "não temos ne­cessidade de nenhuma ciência depois do Cristo, e de nenhuma prova depois do Evangelho”, encobriram durante muitos séculos a doutrina da pluralidade dos mun­dos habitados.

Havia necessidade da religião oficial combater essa doutrina, porque vinha contrariar os seguintes dogmas:

A ENCARNAÇÃO DE DEUS SOBRE A TERRA

Não sendo a Terra mais do que um átomo insignificante no conjunto do Uni­verso, sobre que fundaria o privilégio de haver recebido na sua habitação o próprio Eterno, que não desdenhara descer a encarnar-se num pouco de poeira terrestre?

A CRIAÇÃO DOS ASTROS NA GÉNESE BÍBLICA

A doutrina da pluralidade dos mundos habitados viria trazer problemas inú­meros para a interpretação do livro de Moisés, que afirma terem sido os astros cria­dos somente no quarto dia da criação, para iluminar a Terra e marcar-lhe o tempo e as estações do ano.

Não sendo mais a Terra o privilegiado centro do Universo, como conciliar a ideia que só depois de formar o planeta é que, no quarto dia, teria o Criador forma­do o Sol e a Lua? Daí o combate renhido da religião dogmática à doutrina dos mui­tos mundos habitados.

DESCENDÊNCIA ADÂMICA

Com a doutrina da vida em planetas incontáveis cairia por terra a doutrina de um único casal, únicas criaturas do Universo, criado à imagem e semelhança de Deus para povoar a Terra.

Havendo outros mundos e outros habitantes longe da Terra, por certo não descenderiam de Adão, e como tal Deus houvera criado, noutros lugares e noutro tempo, as suas criaturas, que deveriam lutar, sofrer, aprender, progredir na grande marcha evolutiva, que se constitui lei do Universo, sem ligação alguma com o pecado original do casal primitivo.

A PARADA DO SOL E DA LUA

Desaparecendo o suposto privilégio da Terra, por ser igual a milhões e mi­lhões de outros mundos, também desapareceria o interesse do Senhor em aquinhoar um povo em detrimento de outros, e girando a Terra em torno do Sol, como poderia o Senhor parar este, para que o dia se prolongasse? Tais argumentos colocavam em risco a credibilidade das Escrituras Sagradas, se interpretadas segundo o texto, mere­cendo então perseguição sistemática as doutrinas heliocêntrica da pluralidade dos mundos habitados.

A SALVAÇÃO DA HUMANIDADE PELO SANGUE DE JESUS

O dogma afirma que o Cristo deu a sua vida em holocausto para que o seu sangue lavasse a alma do homem, manchada pelo pecado original.

Com a doutrina da pluralidade dos mundos habitados, existindo, então, hu­manidades que não estariam vinculadas ao primeiro casal da Terra, já não haveria lógica na salvação pelo sangue derramado do Cordeiro Divino. Para que esse dogma continuasse a vigorar entre os crentes, não poderia haver outro mundo habitado além da Terra.

HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI

A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circu­lam no espaço infinito e oferecem, aos espíritos que neles encarnam, moradas cor­respondentes ao seu adiantamento.

São muito diferentes umas das outras as condições dos mundos, quanto ao grau de adiantamento ou de inferioridade dos seus habitantes.

Nos mundos inferiores, a existência é toda material, reinam as paixões, sendo quase nula a vida moral.

À medida que a vida moral se desenvolve, diminui a influência da matéria, de tal maneira que, nos mundos mais adiantados, a vida é, por assim dizer, toda espiri­tual.

Nos mundos intermediários misturam-se o bem e o mal.

Sem fazer uma classificação absoluta, mas com base no estado em que se acham e a destinação que trazem, os mundos podem ser: primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma humana; de expiação e provas, onde domina o mal; de regeneração, nos quais as almas que ainda têm que expiar haurem novas forças; ditosos, onde o bem sobrepuja o mal; celestes ou divinos, habitação dos espíritos depurados, onde reina exclusivamente o bem.

A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas.

TRANSMIGRAÇÕES PROGRESSIVAS

A vida do espírito compõe-se de uma série de existências corpóreas, cada uma representando para ele oportunidade de progredir. Há, para o espírito, existências corporais que nenhum resultado colhe, porque não as soube aproveitar, como exis­tem aquelas que as aproveita bem, mas que nem por isso poderá passar da infância espiritual ao completo desenvolvimento. É-lhe necessário realizar inúmeras encarna­ções em mundos diversos.

Ninguém, por um proceder impecável na vida actual, poderá transpor todos os graus da escala do aperfeiçoamento e tornar-se espírito puro, sem passar pelos graus intermediários.

Ao espírito cumpre progredir em ciência e em moral.

A marcha dos espíritos é progressiva, jamais retrógrada. Elevam-se gradual­mente na hierarquia e não descem da categoria a que ascenderam.

Chegado ao termo que a Providência lhe assinou à vida na erraticidade, o próprio espírito escolhe as provas a que deseja submeter-se para apressar o seu adi­antamento. Tais provas estão sempre em relação com as faltas que lhe cumpre expi­ar. Se delas triunfa, eleva-se; se sucumbe, tem que recomeçar.

Mergulhado na vida corpórea, o espírito perde, momentaneamente, a lem­brança das suas existências anteriores, como se um véu as cobrisse. Conserva algu­mas vezes vaga consciência dessas vidas, que, mesmo em certas circunstâncias, lhe podem ser reveladas; porém, só os espíritos superiores, fazem tais revelações, espon­taneamente e sempre com um fim útil, nunca para satisfazer a vaidade, o orgulho ou a vã curiosidade.

As existências futuras, essas, em nenhum caso podem ser reveladas, pois de­pendem do modo como o espírito se sairá na existência actual e da escolha que ulte­riormente faça.

O esquecimento das faltas praticadas não constitui obstáculo à melhoria do espírito, pois, se é certo que este não se lembra delas com precisão, não é menos certo que a circunstância de as ter conhecido na erraticidade e de haver desejado repará-las o guia, por intuição, e lhe dá a ideia de resistir ao mal - é a voz da consci­ência.

As vicissitudes da vida corpórea constituem expiações das faltas do passado e, simul­taneamente, provas em relação ao futuro. Depuram-nos e elevam-nos, se as supor­tarmos resignados e sem murmurar.

UNIVERSO INFINITO, PROVA RACIONAL DA EXISTÊNCIA DE OUTROS MUNDOS HABITADOS

Não se pode olvidar, nos argumentos em estudo que falam da pluralidade dos mundos habitados, a vastidão do Universo, que se torna cada vez mais ampla à me­dida que o homem vai melhorando a técnica de explorá-la, descobrindo novos plane­tas, sistemas solares, galáxias, etc.

Com o avanço da Astronomia e da Astrofísica evidencia-se um Universo infini­to, e afirmar que só a Terra poderia ser habitada seria afirmar que a humanidade é uma excepção dentro das Leis Naturais ou Divinas.

Allan Kardec, em A Génese, tratando da Orografia Geral, mostra quão insigni­ficante é o papel da Terra no Universo infinito, para ser o único planeta a servir de encarnação às criaturas.

Sabendo-se que a Terra nada é, ou quase nada, no sistema solar; que este nada é, ou quase nada, na Via Láctea; esta, por sua vez, nada, ou quase nada, na universalidade das nebulosas, e essa própria universalidade bem pouca coisa é dentro do incomensurável infinito, começa-se a compreender o que é o Globo Terrestre.

BIBLIOGRAFIA

(1) João Ferreira Almeida, A Bíblia Sagrada (tradução) Génesis de Moisés, Cap. 1, v.

14 a 19, Josué, Cap. X, v. 12 e 53, 31a Impressão, Imprensa Bíblica Brasileira (1975)

(2) Isaac Asimov, O Universo, 3.a edição, Edições Bloch

(3) Camille Flammarion, A Pluralidade dos Mundos Habitados, Livro 1, Cap. 1 e Apêndice A, Edição B.L Garnier (1878)

(4) Joachin Herman, Astronomia; O Universo é Limitado, pág. 278, 1.a Edição, Edito­

ra Círculo do livro SA

(5) Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Parte Segunda, Cap. V, Questão 191; Cap. VII,

Questão 399; Parte Primeira Cap. III, Questões 55 a 58; 44.a Edição da Federa­ção Espírita Brasileira

(6) Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III, 77.a Edição da Federa­

ção Espírita Brasileira

(7) Allan Kardec, A Génese, Cap. V, item 13 e Cap. VI, item 32 a 36, 19.a Edição

(Popular) da Federação Espírita Brasileira

Louis Pauwels e Jacques Bergier, O Homem Eterno, Terceira Parte, Cap. I, Edição Difusão, Europeia do Livro, São Pau


[1] Hoje sabe-se que há centenas de biliões de sóis na Via Láctea (“Universo - A Grande Enciclopédia para todos” - Editora Delta - Editora Três - Edição 1973).

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